O governo do Rio Grande do Sul salienta que tem investimentos em energia previstos na ordem de R$ 52 milhões dentro do programa Avançar na Sustentabilidade. Este valor é destinado para o fomento da transição energética de fontes poluentes para alternativas sustentáveis, bem como expansão da energia elétrica em zonas rurais. O governo afirma que haverá a criação de um plano setorial de hidrogênio verde e ainda um projeto de transição para regiões com vocação atual para a exploração de carvão mineral, considerando os impactos sociais e econômicos.
O Atlas das Biomassas do Rio Grande do Sul, um dos documentos com potencial para fomentar políticas públicas relacionadas ao setor energético, observa ainda que “a mudança para energias renováveis é essencial” a partir dos estudos realizados e posteriormente publicados nos diferentes anos. Embora este não seja o único documento que aponte esta necessidade de investimentos contínuos, é possível perceber que há uma convergência de ideias que levam a uma realidade mais sustentável em um futuro imediato.
Em geral, há um clima de júbilo e expectativas crescentes entre os profissionais envolvidos em todas as etapas da cadeia produtiva e de distribuição. Neste contexto, existe uma grande possibilidade de que, não muito longe no futuro, a energia elétrica que chega até a residência dos consumidores, ou o combustível abastecido em um automóvel, apenas para citar alguns exemplos, seja proveniente de uma fonte renovável cuja tecnologia ainda hoje esteja em desenvolvimento. “A transformação será enorme e atingirá muitas atividades da economia tradicional, incluindo os processos industriais e as cadeias de transporte e serviços”, afirma Felipe Ostermeyer, da Enerfin, um dos desenvolvedores do projeto de hidrogênio verde no Rio Grande do Sul.
Energia solar cada vez mais popularizada e com instalação menos burocrática
O Rio Grande do Sul é o segundo estado do Brasil com a maior potência fotovoltaica instalada e o terceiro do país em número de instalações de geração distribuída. Foto: Guilherme Almeida
A energia solar é uma das mais difundidas no Brasil e este fato não é diferente no Rio Grande do Sul. Painéis solares são largamente vistos em residências, comércios, indústrias e edifícios públicos, denotando que a tecnologia associada às instalações não apenas está mais popularizada, como sua instalação está cada vez menos burocrática. Parte desta afirmação vem de uma maior facilidade para a aquisição de financiamentos, liberados por bancos privados e especialmente instituições financeiras cooperativadas, que estão visualizando o potencial deste mercado, principalmente em comunidades do interior gaúcho.
“Quanto mais se utiliza a tecnologia, mais ela acaba sendo barateada. Isso é um fenômeno mundial que chegou ao nosso país”, afirma Frederico Boschin, conselheiro nacional da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), além de diretor técnico e conselheiro do Sindienergia-RS. A ABGD afirma que o país ultrapassou, em março deste ano, a marca de 10 gigawatts (GW) de geração distribuída, como é chamada a energia gerada a partir de fontes próprias e deve superar a barreira dos 15 GW até o final de 2022. É um salto considerável: conforme a associação, o país passou de 9 para 10 GW instalados em apenas 67 dias.
Existe, no Brasil, mais de 1,1 milhão de conexões totais deste tipo de fonte, também segundo a ABGD, 43,6% delas para consumo residencial, o maior contingente entre as classes aferidas. O comércio vem na sequência, com 33,2%. Em seguida, aparecem os segmentos rural (13,9%) e industrial (7,9%). A energia solar é a dominante entre as fontes de mini e microgeração de eletricidade, respondendo por 97,7% do total. “Acrescentar cerca de 8 GW em um ano significa entregar o equivalente a meia Itaipu”, ressalta o presidente da Associação, Guilherme Chrispim. O Rio Grande do Sul responde por 118 mi unidades consumidoras e 1.128 GW de potência instalada, segundo o deputado estadual Zé Nunes, presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Microgeração e Minigeração de Energia Renovável, participante do evento.
O conselheiro Frederico Boschin aponta ainda que a energia solar se tornou a “grande vedete do Brasil”. Na opinião dele, esta fonte é benéfica em períodos e regiões mais secas. “Se não chove, tem sol. E o preço da energia dispara porque não é possível gerar energia a partir de fontes hidrelétricas e precisamos fazer o acionamento de usinas térmicas. De um lado, temos comparativamente um tipo de energia mais caro, mas o custo da solar caindo”. Ainda segundo o conselheiro, a regulamentação é “bastante preferencial” às instalações de energia solar e o caráter modular dos próprios painéis, que podem ser instalados de um até milhares por vez, facilita esta personalização dos projetos.
Conforme o Atlas Solarimétrico do Rio Grande do Sul, em “qualquer região do território gaúcho” é viável à implantação de projetos de aproveitamento da luz do sol dentro dos limites de inserção no Sistema Elétrico Regional ou ainda em sistemas isolados. De maneira geral, Dom Pedrito, na região da Campanha, é o município, dentre 34 grandes e médios do Estado aferidos pelo projeto, incluindo Porto Alegre, com o maior índice de radiação solar no ano, com 5,042 quilowatt-hora por metro quadrado (kWh/m²).
O Rio Grande do Sul é o segundo estado do Brasil com a maior potência fotovoltaica instalada e o terceiro do país em número de instalações de geração distribuída. “Todos os cenários apresentados atualmente mostram a energia solar como a fonte energética que mais crescerá no mundo até 2050”, diz o Atlas. O documento aponta ainda que, ao utilizar apenas 2% da área não urbana do RS, apta para instalação de projetos fotovoltaicos, é possível instalar uma potência total de 23 GW de energia e produzir, anualmente, cerca de 34 TWh de eletricidade. O número, descreve o documento, é equivalente à média do consumo gaúcho de energia elétrica registrada nos últimos sete anos, incluindo as perdas do sistema.
De maneira geral, os debates sobre energias renováveis têm como norteador a transição energética. O Rio Grande do Sul e o Brasil se comprometeram a reduzir a emissão de poluentes em até 50% até o ano de 2030 a partir das metas assumidas no Acordo de Paris. O diálogo contínuo entre o poder público e a iniciativa privada são vistas como igualmente fundamentais, tanto na parte de regulação destas tecnologias quanto na própria implantação e acompanhamento dos projetos ao mercado consumidor. Desta forma, os painéis do Fórum de Energias Renováveis buscaram ouvir todos os segmentos relacionados e se posicionar como uma importante arena de debates no Estado.