Na Europa não faltam áreas para expansão da energia solar
Foto: DW / Deutsche Welle
Instalações fotovoltaicas ganham nova força na Europa. Além do potencial de cobrir a demanda de eletricidade do continente, elas são o melhor caminho para a proteção do clima global, juntamente com a energia eólica. Até 2012, a energia fotovoltaica prosperava na União Europeia (UE), como tecnologia do futuro, com a Alemanha à frente. Mas aí a política pisou o freio, firmas abriram falência, dezenas de milhares perderam o emprego, e a China assumiu no lugar da Europa o papel de líder da indústria solar.
“Agora entramos numa era de expansão da energia solar, ela floresce na UE”, anuncia Walburga Hemetsberger, diretora-geral da associação patronal SolarPower Europe. “Em 2019 foi instalada mais energia solar do que qualquer outra tecnologia de produção de eletricidade.”
Atualmente, cerca de 5% da demanda energética da UE é coberta por instalações fotovoltaicas. Em 2018 elas totalizavam uma capacidade de 115 gigawatts, e em 2019 esta cresceu em 17 gigawatts, mais do que o dobro do ano anterior, indica uma análise de mercado da SolarPower Europe.
A razão principal para esse recente sucesso foi a queda dos preços das instalações fotovoltaicas: hoje os módulos custam um quarto do que custavam em 2010, implicando também uma redução dos custos da energia solar.
Para abastecimento próprio, em geral ela é a mais econômica: a eletricidade produzida por módulos fotovoltaicos instalados em telhados custa menos de um terço da fornecida pela rede. E a energia proveniente dos parques solares europeus custa, em geral, cerca da metade da produzida pelas novas usinas nucleares a gás ou a carvão.
Outra vantagem perante as fontes fósseis é que a energia solar provoca muito menos danos de longo prazo ao meio ambiente, clima e saúde, como mostrou um estudo do Departamento Federal do Meio Ambiente (UBA) da Alemanha, sobre os custos consequentes da produção de energia. A produzida com linhito, por exemplo, provocou danos no valor de 78 bilhões de euros em 2019.
Fontes de energia do futuro
Especialistas em clima e energia concordam que o sol e o vento serão as mais importantes fontes de energia no futuro. E a redução de custos prevista, graças a inovações e produção em massa, acelera sua difusão.
O economista solar Christian Breyer, da Universidade Lappenranta (LUT), na Finlândia, calcula que os custos solares se reduzirão à metade nos próximos 20 anos: “Por volta de 2040, teremos eletricidade de grandes instalações fotovoltaicas nas regiões ensolaradas do mundo a bem menos de 0,01 euro por quilowatt-hora.
Junto com cientistas do independente Energy Watch Group, a LUT calculou como seria o mais barato abastecimento energético não danoso ao clima, na Europa: até 2050 o continente poderia cobrir toda sua demanda com 62% de energia solar, 32% de eólica, 4% de hidráulica e 2% de biomassa.
Para tal, é necessária uma grande ampliação das capacidades fotovoltaicas. Os 132 gigawatts atualmente produzidos na Europa teriam que “ser elevados até cerca de 5.700 gigawatts”, explica o coautor do estudo Hans-Josef Fell, da Energy Watch Group. “O cenário confirma que uma reviravolta em direção a energias renováveis é possível, sem ser mais cara do que o sistema energético atual.”
Nos próximos anos serão construídas na Europa usinas fotovoltaicas com capacidade total de cerca de 100 gigawatts, e em condições ideais até 145 gigawatts.
“Política tem que agir mais rápido”
“A ampliação da energia solar é uma boa notícia. No entanto não passa de um primeiro passo na direção certa”, comenta Claudia Kemfert, especialista em economia energética do Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas (DIW).
Segundo ela, “precisa acontecer bem mais, se a Europa pretende cumprir as metas climáticas de Paris”. E recomenda que se melhorem as condições de subvenção para a energia fotovoltaica e se eliminem as barreiras existentes: os “impostos solares” da Alemanha, arrecadados dos inquilinos pelo consumo da energia dos telhados solares, geram custos adicionais e burocracia, impedindo a expansão fotovoltaica. Além disso, “os subsídios fósseis e nucleares deve ser inteiramente eliminados”, defende Kemfert.
Hans-Josef Fell urge a uma reavaliação em todos os níveis, pois “a comunidade mundial tem que agir de modo fundamentalmente mais radical”. Para limitar o aquecimento global a 1,5 ºC em relação aos níveis pré-industriais, seria necessário um acréscimo anual de 500 gigawatts de energia fotovoltaica à matriz da União Europeia, e “a comunidade terrestre deve encontrar até 2030 uma economia baseada em emissão zero de CO2”.
“A política tem que agir mais rápido”, apela Andreas Bett, diretor do Instituto Fraunhofer de Sistemas de Energia Solar (ISE). Ele vê positivamente o Acordo Verde Europeu da nova Comissão da UE, mas “do ponto de vista da velocidade, não basta para cumprir a meta dos 2 ºC: ou seja, precisamos impulsionar a reconfiguração energética de forma muito mais agressiva”.
O impulso à energia solar poderia ser ainda maior se mais sistemas fotovoltaicos fossem construídos em solo europeu, já que os custos de transporte desde a Ásia ganham cada vez mais peso, e “uma fabricação na Europa faz sentido e é econômica”, como demonstra um estudo do Fraunhofer.
Segundo Bett, espaço não falta na Europa para a construção de instalações fotovoltaicas. E nesse ponto é também importante a utilização das áreas construídas, telhados e fachadas: até agora, apenas 10% dos telhados europeus possuem sistemas de captação solar.
A expansão solar também deverá ser impulsionada pelo abandono da energia de carvão mineral, liberando grandes áreas de mineração para instalações fotovoltaicas. Junto aos telhados solares, assim se poderá substituir a capacidade elétrica de todas as usinas de carvão da UE, segundo uma análise do Centro de Pesquisa da Comissão Europeia.
Fonte: Terra