O Projeto Solares, desenvolvido por universitários do Espírito Santo, une alunos de diferentes cursos e instituições de ensino.
A geração de energia solar no Brasil apresenta constante crescimento nos últimos anos. Só em 2016, o setor cresceu 300% e segue com perspectivas maiores para os próximos anos. Comprometidos em contribuir com esse cenário, um grupo de capixabas têm estudado a fundo esse tipo de tecnologia e desenvolvido ações que buscam aproximar a sociedade da exploração de energia solar.
O Projeto Solares, desenvolvido por estudantes do ensino superior do Espírito Santo, já criou um barco catamarã movido a energia solar fotovoltaica, e um carrinho solar, controlado por um aplicativo de celular via Bluetooth.
Apesar das criações que chamam atenção pela engenhosidade, os membros do projeto têm aspirações ainda maiores. Em parceria com uma das empresas que está retomando as atividades do sistema de transporte com balsas entre os municípios de Vitória e Vila Velha, o Solares pretende desenvolver um sistema de energia solar que auxilie o transporte.
Além disso, o grupo de estudantes vai levar, ainda no segundo semestre deste ano, a ‘Estação Solares’ aos alunos da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e à sociedade. Esse projeto consiste em um quiosque para carregamento de celulares e notebook’s. No local, as pessoas ficarão sentadas em baixo dos painéis solares e terão contato com a energia solar.
“A missão do projeto é explorar aplicações para Energia Solar e contribuir para o desenvolvimento dos membros e da sociedade. As ações do nosso projeto têm o objetivo de colocar as pessoas em contato com essa tecnologia. Muita gente não sabe bem o que significa energia solar e alguns não sabem nem da existência dela. E isso, de certa forma, é uma barreira para o crescimento da tecnologia no Brasil”, comenta o estudante e diretor geral do Solares, Rafael Castro.
Projeto interdisciplinar
O Solares é associado ao departamento de Engenharia Mecânica da Ufes e tem como visão ser o projeto universitário referência em energia solar no Brasil até 2020. Para isso, o projeto também recebe membros de diversos cursos da universidade, como arquitetura, elétrica, cinema e jornalismo.
“Nós buscamos funcionar como uma empresa bem estruturada, com setores de marketing, finanças e projetos, e por isso, estamos abertos a todos os cursos e instituições, para termos diversidade em nosso time”, frisa Rafael.
O Solares exibe uma estrutura organizacional pouco ortodoxa quando o assunto é projeto de extensão. Com o propósito na continuidade dos trabalhos desenvolvidos pelo grupo, desde a fundação o Solares se divide em diretorias, que permitem o envolvimento de alunos de outros cursos e até mesmo de outras instituições, como o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES).
Os diretorias se organizam por projetos. “Apesar de a gente só ter realizado o catamarã por enquanto, nossa diretoria é focada em ‘barcos de competição’, porque queremos ampliar os objetivos o tempo todo. Essa é a forma como a gente busca evoluir para explorar todas as ´áreas que a tecnologia nos permite”, determina Costa.
Rafael afirma ainda que, como um dos diretores, busca aplicar esse ideal de diversidade não só aos cursos que engajam-se na empreitada. “Não é porque na engenharia tem mais homens que mulheres, por exemplo, que vamos aceitar essa realidade e deixar que o projeto siga nesses parâmetros. Hoje a diretoria geral é composta por mim e pela Andressa Santiago, da Engenharia de produção”.
As diferenças não se limitam ao gênero para que o Solares amplie seus limites. A ideia é que os diretores apresentem visões com contrastes que podem levar à inovação. “E inovação é isso, né? Embate de ideias com um objetivo em comum”, explica.
Primeiro projeto
O primeiro projeto do Solares foi o barco catamarã movido a energia solar fotovoltaica. O veículo foi criado para participação em um evento anual de rali de barcos, o Desafio Solar Brasil, que ocorre em vários municípios do País. O evento ocorre desde 2009 com participação de equipes de todas as pares do Brasil.
Contudo, só em 2016 o Solares participou da competição, ainda como equipe observadora. Nessa experiência, os membros do projeto fizeram contato com outros participantes e tiraram dúvidas sobre como fazer o próprio barco para competir. Em maio de 2017, o grupo conseguiu cascos para montar o catamarã e angariou patrocinadores para conseguir peças.
“Durante o ano inteiro nós nos dedicamos à construção do barco para a competição. Nesse período, o nosso lema era construir uma embarcação robusta, pois observamos, em 2016, que equipes experientes, muitas vezes, não conseguiam concluir as provas. Nós queríamos começar e completar todas as provas. Em dezembro de 2017, fomos participar pela primeira vez e, não só completamos todas as provas, mas também ficamos em quarto lugar. Um ótimo desempenho para uma equipe iniciante. Esse ano, nós competiremos novamente com o objetivo de melhorar a classificação”, afirma Castro.
Visitas em escolas
Outro projeto do Solares é o Visita em Escolas. Nessa ação, o grupo também busca aproximar a tecnologia dos estudantes. “Nesse projeto, a gente leva, de uma forma lúdica, o conhecimento sobre energia solar e outras formas de captação, para que os alunos entendam como funciona. Depois, nós deixamos eles interagirem e promovemos uma mini-competição. A ideia é plantar semente”, diz o diretor geral do projeto.
Novos desafios
A próxima competição do Solares no Desafio Solar Brasil será realizada de 10 a 16 de setembro deste ano, em Búzios, no Rio de Janeiro. “Ainda este mês, realizaremos testes em água da nossa embarcação para aperfeiçoar nossa participação e faremos uma vaquinha online para a compra de baterias novas, mais leves e eficientes”, diz Costa.
O aluno, diretor do projeto, diz que os planos vão além de participar da competição. O projeto busca também formas inteligentes de aplicar a energia solar na rotina da universidade, que passa a ser o laboratório do Solares para o desenvolvimento da tecnologia na sociedade.
“Nós temos o projeto de usar o telhado da biblioteca da Ufes para gerar energia para a universidade. É uma ideia que foi muito falada, mas como objetivo do Solares não tenho dúvidas de que vamos tirar do papel”, finaliza Rafael.
Energia solar
De acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), a energia fotovoltaica abastecia, no ano passado, cerca de 60 mil casas em todo o Brasil. De acordo com a associação, o número pulou para 633 mil residências em 2018. Ao todo são 30.039 sistemas instalados de geração distribuída no País, somando R$ 2,1 bilhões em investimentos desde 2012. Somados à geração distribuída a centralizada, os investimentos são de R$ 6 bilhões, e até o final de 2018 devem atingir R$ 20 bilhões, informou o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia, ao Estadão Conteúdo.
Mais de 20 mil empregos diretos e indiretos no País são gerados no setor, segundo a Absolar. Os consumidores residenciais são os que mais procuram a fonte solar, com 77,4% do total de sistemas instalados no País, seguidos dos setores de comércio e serviços, com 16%; consumidores rurais, com 3,2% e indústrias, com 2,4%.
Os fatores que têm contribuído para o rápido crescimento da energia solar no Brasil, segundo a Absolar foi a redução de 75% no preço da energia solar nos últimos 10 anos e o forte crescimento no preço da energia elétrica, que desde 2012 subiu 499%, segundo o Ministério de Minas e Energia. De acordo com a associação, somente com o aproveitamento dos telhados de residências brasileiras a geração de energia solar seria de cerca de 28.500 GW, um volume de energia maior do que as demais fontes do País combinadas. A matriz brasileira elétrica atual é de 160 GW instalados.
Em 2017, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) publicou uma atualização sobre a Resolução Normativa nº 482/2012. Com a atualização, todo consumidor que possua cadastro no Ministério da Fazenda, por meio de CPF ou CNPJ, pode conectar um sistema gerador de energia elétrica próprio de fontes renováveis paralelas às redes de distribuição de concessionárias.
Espírito Santo
Atualmente, o Espírito Santo possui 889 usinas de energia solar fotovoltaica com 5,4 MW de potência. Segundo o engenheiro de energia e diretor comercial da Solsist Energia, Alexandre Andrade, o número representa poucas usinas, mas também um avanço. “A energia solar fotovoltaica está crescendo em um ritmo exponencial. O Espírito Santo tem muito mercado a ser explorado ainda”, comenta.
A energia solar fotovoltaica começou no Brasil por meio de mini redes, alimentando locais com condições de remotas a exemplo de pequenas tribos indígenas e vilarejos. “Essa tecnologia consiste na conversão direta de radiação solar em energia elétrica. Ela é muito importante para a sociedade, principalmente na questão da economia. É uma economia limpa. É possível gerar a própria energia e não precisar pagar uma concessionária. O que gera de economia, a sociedade pode investir como cada um quiser”, explica Andrade.
O engenheiro ressalta que as usinas fotovoltaicas são usinas complementares de energia. “Nós não conseguimos viver apenas com as usinas fotovoltaicas. Precisamos sim da hidrelétrica, da termoelétrica… Nas a fotovoltaica, no meu ponto de vista, veio para somar. Ela é sustentável e renovável. A maioria dos telhados bate sol e ninguém aproveita. A gente pode transformar esse sol e economia todos os meses”, conclui.
Fonte: Folha Vitória