A disponibilidade de energia elétrica é hoje um dos requisitos básicos de qualquer empreendimento produtivo. Várias são as vantagens que a eletricidade pode oferecer ao homem no intuito de aprimorar o seu trabalho, aumentando a produtividade e a qualidade dos seus serviços. No meio rural não é diferente, várias são as possibilidades que o fornecimento de energia elétrica pode oferecer ao homem do campo. Todavia, muitos produtores rurais piauienses na atualidade ainda desconhecem os benefícios que a eletricidade pode proporcionar. Nesse cenário, tendo em vista as potencialidades produtivas locais e a não disponibilidade de energia elétrica em várias regiões rurais do Estado a opção fotovoltaica apresenta-se como uma alternativa promissora.
Uma das grandes vocações produtivas que o Piauí possui é a apicultura, apresentando-se como o maior produtor de mel do Nordeste e o segundo do País. A região de maior produtividade está encravada no meio do semiárido piauiense, em especial na micro-região de Picos, apresentado a maior concentração de apicultores do Brasil. Além dos fatores ambientais[1] que favorecem esse cenário, políticas públicas de incentivo e capacitação de produtores estão dentro dos principais motivos que ao longo das três últimas décadas consolidaram esta prática no Estado. A grande vantagem da apicultura no semiárido piauiense deve-se ao caráter social que a atividade desempenha, possibilitando a geração de renda e a melhoria na qualidade de vida dos pequenos produtores, base principal do processo produtivo.
Nessa atividade, o caráter familiar é uma constante. Em geral, pequenos produtores rurais de uma mesma comunidade formam uma associação de apicultores e iniciam o processo produtivo, contando com o apoio técnico de instituições governamentais e/ou não-governamentais. Um dos passos iniciais desse processo é a construção de uma edificação que servirá de sede para associação: a casa do mel. Essa edificação abrigará todos os equipamentos necessários para o beneficiamento dos produtos e subprodutos da apicultura, que geralmente necessita de atividades noturnas.
Em localidades não eletrificadas a tecnologia solar fotovoltaica apresenta-se como alternativa promissora no fornecimento de eletricidade de qualidade às casas do mel, possibilitando melhorias reais nas condições de trabalho. A figura 1 ilustra o processo produtivo do mel no semiárido piauiense, com destaque especial à opção fotovoltaica na eletrificação das casas de mel em locais não conectados à rede elétrica.
Fig. 1 - Processo produtivo do mel, com detalhe na inserção fotovoltaica. 39
Duas outras vertentes de atividades produtivas regionais com potencial para aplicação fotovoltaica são a pecuária e a ovinocaprinocultura, especialmente na eletrificação de cercas. A pecuária no Piauí apresenta-se como a primeira atividade econômica, fazendo parte da sua tradição histórica e cultural. Já a criação de animais menores e adaptados para regiões áridas tem origens mais recentes no cenário estadual, porém apresenta na atualidade grande representatividade no mercado nacional, especialmente os caprinos cujo rebanhos são o segundo maior do Brasil.
Em ambos os casos, a prática extensiva de criação é majoritária, sendo normalmente realizada de forma amadora por pequenos e médios agricultores rurais. Contudo, este tipo de prática compromete a produtividade e reduz o aproveitamento do couro. Levando em conta essas peculiaridades, o sistema de produção agrossilvipastoril apresenta-se como alternativa promissora, tanto na conservação dos recursos naturais, quanto no ganho de produtividade agropecuária.
Esse modelo, desenvolvido pela Embrapa Caprinos em Sobral (CE), baseia-se na subdivisão da propriedade rural em três porções (agrícola, pecuária e reserva legal) a serem explorados em sistema de rodízio. Nesse contexto, a utilização de cercas eletrificadas (figura 2) apresenta uma série de vantagens, dentre elas: o custo inferior (menos material), melhoria na qualidade do couro, baixa manutenção, facilidade de modificação/transferência, redução no uso de madeira, etc.
Fig. 2 - Modelo de cerca elétrica com quatro fios adotando para caprinos e que pode ser alimentado com gerador fotovoltaico
A piscicultura é outra atividade de grande potencial regional que pode também contar com a opção fotovoltaica. Esse tipo de geração pode atuar em três frentes diferentes de aplicabilidade: no fornecimento de água, no processo de aeração e na conservação do pescado. No primeiro caso, o fornecimento de água fica assegurado através da utilização de sistemas fotovoltaicos de bombeamento de água. O segundo caso trata-se da utilização de um arranjo fotovoltaico para acionar um dispositivo apropriado que induz a oxigenação da água em reservatórios controlados (lagos artificiais), de forma a reduzir a mortalidade dos peixes e intensificar a produção. O terceiro caso refere-se à mini fábricas de gelo acionadas também por painéis fotovoltaicos.
A figura 3 apresenta detalhes de um sistema fotovoltaico de aeração para criação de peixes de forma intensiva em lagos. Esse sistema foi instalado em Israel e apresentou satisfatórias condições de operação durante os dois anos em que foi estudado, isso se aplica aos componentes dos sistemas e aos instrumentos de medida. Os componentes principais desse sistema são: arranjo fotovoltaico (848 Wp – 16 módulos), controlador eletrônico de carga (24 V - 25 A), banco de bateria (500 Ah), motor elétrico (400 W - 1500 rpm) e equipamentos de medição. O lago em questão possui 150 m² e a existência de baterias é justificada por possibilitar o funcionamento do sistema mesmo durante a noite. Essa configuração pode ser alterada e adaptada para as condições especificas locais, para isso faz-se necessário a realização de pesquisas.
Fig. 3 - Ilustração de sistema fotovoltaico de aeração, utilizado na piscicultura. 41
Além desses casos supracitados, a opção fotovoltaica apresenta-se também promissora em outras atividades produtivas piauienses, tais como: cajucultura, umbucultura, agricultura orgânica, nos processos produtivos da cera de carnaúba e da farinha de mandioca, dentre outras. Para isso, porém, faz-se necessário investimento em pesquisa e desenvolvimento e em políticas públicas, com o objetivo de mudar paradigmas.
O aproveitamento de outros potenciais energéticos (eólica, biogás, biodiesel) da região, associado à opção fotovoltaica, pode contribuir para fortalecer esse tipo de geração. Para isso, tornam-se necessários a adaptação e o dimensionamento, segundo as necessidades de demanda, com soluções de acordo com as características locais. Portanto, trabalhos de pesquisas nesse setor devem ser realizados, de forma a aumentar as chances de sucessos de empreendimentos nessas culturas.
[1] Dentre os principais fatores ambientais estão a florada silvestre e diversificada, proporcionado uma produção em praticamente todo o ano.
* Texto publicado originalmente em http://migre.me/7f0VP
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