Roberto Temperini - Região que registra ventos fortes e constantes, o Nordeste brasileiro tem um futuro promissor na oferta de energia eólica. Abrigando mais de 70% da potência instalada em operação da fonte, outros 2.796 MW - quase uma usina de Santo Antônio, no rio Madeira - estão em construção.
A transmissão vinha sendo o calcanhar de aquiles do desenvolvimento eólico na região. Um descasamento no cronograma de obras que iriam escoar energia eólica para o sistema interligado nacional criou a estranha situação de se ter parques eólicos prontos para funcionar, mas sem ter como transmitir a energia. Mas isso é passado.
"A entrada da SE Igaporã no último dia 29 foi um grande passo para resolver essa questão. Em 2013, o governo mudou a metodologia do leilão, transferindo a responsabilidade da transmissão para os donos dos parques e esse descasamento não vai mais ocorrer", comemora a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica, Élbia Melo.
Outra questão que foi alvo de discussão foi o meio ambiente. Apesar de ser uma fonte limpa e renovável, a energia eólica sofreu restrições ambientais sobretudo para instalação em regiões litorâneas, rota migratória de aves. Em razão disso, as usinas estão indo para o interior, onde os ventos são tão bons ou até melhores do que os do litoral.
A ida para o interior nordestino, para áreas geralmente pouco desenvolvidas economicamente, está levando investimentos para lá. A construção dos parques exige toda uma cadeia de suprimento e de mão de obra que está rendendo dividendos para essas regiões. "A interiorização das eólicas é bem vinda", avalia Adão Linhares, presidente da Câmara Setorial de Energia Eólica do Ceará.
Fabricantes de equipamentos, transporte, refeição, operação e manutenção dos parques, escolas técnicas, tudo isso traz desenvolvimento às regiões onde as eólicas são instaladas, sobretudo empregos. "Cada megawatt produzido pode abastecer com energia até mil famílias, gera dez empregos diretos e 15 indiretos na fase de construção e gera de 2 a 3 empregos diretos e indiretos nas fases de operação e manutenção dos parques", mostra o diretor-geral do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Jean-Paul Prates, que calcula que o segmento já tenha gerado 50 mil empregos no país e que vai gerar mais 3 a 4 mil ao ano.
Para continuar levando desenvolvimento às regiões, entretanto, alguns gargalos precisam ser resolvidos. Um deles é a infraestrutura. Estradas sem capacidade de receber equipamentos de grande porte ou mal conservadas, pontes estreitas e falta de ferrovias são fatores que encarecem os projetos, pois exigem soluções alternativas.
A Abeeólica montou um grupo de trabalho para pensar essas questões e trazer soluções. A associação espera apresentar em três meses um estudo sobre os custos e a competitividade da cabotagem para transporte de equipamentos eólicos. Outras questões também são analisadas. "Na Bahia identificamos que não havia escolta pública suficiente para acompanhar o transporte dos equipamentos. O governo da Bahia então permitiu o uso de escoltas privadas, agilizando o processo", conta Élbia.
As 105 usinas em construção na região estão localizadas na Bahia, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Pernambuco. A maior parte é de usinas de alta ou média viabilidade, segundo o relatório de fiscalização mensal da Agência Nacional de Energia Elétrica. Isso significa que esses projetos estão com questões cruciais como início das obras e licença ambiental equacionadas ou com obras não iniciadas ou licenciamento ambiental em andamento, respectivamente.
O Estado que abriga a maior potência instalada em empreendimentos eólicos em construção é o Rio Grande do Norte, com 1.300 MW, distribuídos em 43 projetos. Conta com outros 1.200 MW em funcionamento e é também o primeiro nesse quesito. "Somos a maior matriz eólica do Brasil, com 45,49% da energia produzida a partir da fonte", diz Prates.
Os potiguares também têm os dois maiores parques do país - Santa Clara e Ventos Potiguares, com 188 MW e 169,6 MW, respectivamente - mas devem perder esse posto entre julho e agosto para um parque da Renova, na Bahia, de 294,6 MW.
A Bahia também tem se destacado e disputa com o Rio Grande do Norte a liderança no segmento. O Estado tem o maior número de projetos inscritos no leilão A-5 - entrega da energia cinco anos à frente - que o Ministério de Minas e Energia vai promover no dia 12 de setembro. São 255 eólicas, uma capacidade de 6.291 MW. O Rio Grande do Norte, 3.427 MW. Esses projetos ainda vão passar pelo crivo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
O ambiente do segmento eólico é muito competitivo, tanto entre os investidores quanto entre os Estados. Nesse último caso, a fórmula que deu certo foi a atuação do governo estadual no sentido de resolver os principais gargalos.
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