O avanço das redes inteligentes de energia poderá representar também o incremento gradual da microgeração distribuída na matriz elétrica. Os medidores inteligentes que as concessionárias planejam instalar serão bidirecionais, ou seja, permitirão que o cliente não apenas consuma energia, mas, com investimentos próprios, possa se tornar um microgerador, instalando painéis solares em sua casa e obtendo descontos em sua conta.
Permitida por lei há mais de dois anos, a microgeração nas cidades ensaia passos tímidos. A principal razão do avanço lento é econômica. A média do investimento dos clientes atendidos pelas distribuidoras supera R$ 20 mil, para gerar entre 2 kWp a 4 kWp de energia em uma residência de cerca de 200 metros quadrados e quatro pessoas. O retorno desse investimento poderia até superar 20 anos, em algumas áreas de concessão, como o interior paulista. Além do alto custo dos equipamentos solares, sendo que boa parte tem componentes importados, outro obstáculo é o ICMS que é cobrado do pequeno gerador e reduz ainda mais o retorno.
Na CPFL Energia, foram conectados à rede 22 clientes, sendo 18 no interior de São Paulo e quatro no Rio Grande do Sul. "Enquanto não houver um incentivo maior, esse avanço será muito lento", afirma o diretor de engenharia da CPFL Energia, Paulo Bombassaro. Na Light, 16 clientes foram ligados. "Acreditamos que o crescimento possa vir no médio prazo", diz o consultor da Light Ricardo Loss Vincens.
Em Pernambuco, um prédio da secretaria de Planejamento do Estado, que se tornou o primeiro edifício administrativo do país que pode gerar energia solar e trocar essa geração por abatimento na conta de luz. Atualmente, a resolução 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) permite que o pequeno consumidor residencial ou comercial que tiver excedente de geração de energia de fonte própria, como geração solar por meio da instalação de painéis fotovoltaicos, possa acumular créditos para descontar da conta.
O maior avanço da microgeração tem se dado em Minas Gerais. Na área de concessão da Cemig, foram recebidas mais de 45 solicitações de clientes. A maioria é de residências. Em Minas, o principal atrativo é a decisão do governo estadual de conceder isenção integral do ICMS aos microgeradores. Em alguns Estados, a alíquota do imposto chega a 30%. Isso faz com que o retorno possa ser obtido em pouco mais de dez anos. Em outros Estados pode superar os 20 anos.
Em Uberlândia (MG), a PGM Sistemas, que fabrica softwares de gestão empresarial, se tornou, ano passado, a primeira empresa da América Latina a receber o Selo Solar, certificação concedida a unidades que geram pelo menos 50% de sua energia a partir de painéis fotovoltaicos. No início de 2012, a empresa investiu R$ 80 mil na instalação de 28 placas que geram cerca de 800 kWp, equivalentes a 80% da demanda da empresa. Ao gerar sua própria energia, a empresa pode abater o que paga pelo insumo. Com isso, a conta de luz caiu de R$ 500 a R$ 600 mensais para R$ 50 em alguns meses do ano passado. O retorno do investimento é esperado em oito a nove anos.
Há também desconhecimento sobre o tema. Pesquisa da Market Analysis com o Greenpeace, realizada ano passado, identificou que sete em cada dez brasileiros sabem nada ou muito pouco sobre o tema. No entanto, 90% dos entrevistados afirmaram ter interesse em conhecer mais. A microgeração distribuída tem tido muito sucesso em vários países da Europa, com destaque para a Alemanha, que hoje possui um parque de 17,5 GW de potência instalada de usinas solares, sendo que a maioria dos projetos foi implementada por clientes residenciais.
Boa parte desses painéis fotovoltaicos saiu do papel por conta de incentivos do governo alemão para que os consumidores vendessem o excedente de energia no mercado com um prêmio embutido na tarifa. Isso permitia que, em alguns casos, o investimento na instalação dos painéis fosse pago em menos de quatro anos. Com a crise econômica na Europa, esses incentivos vêm sendo cortados.
Já o Brasil seguiu um outro caminho: com o governo adotando um sistema em que o consumidor pode gerar sua própria energia e obter um desconto na conta. Esse benefício fica ainda mais reduzido aqui porque há cobrança de ICMS em vários Estados sobre essa microgeração, o que pode aumentar o prazo de amortização dos investimentos feitos para instalar painéis fotovoltaicos.
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