Nos últimos anos houve uma enorme procura por certificações ambientais para edifícios corporativos, industriais, hospitalares, escolares, de varejo e até residenciais. Hoje, um novo nicho que se forma no mercado é a busca por certificação em residências unifamiliares.
Esta casa localizada próxima ao parque Ibirapuera, um dos últimos pulmões de São Paulo, como bem disse a arquiteta Kika Camasmie em palestra realizada na conferência internacional de 2015 do GBC Brasil, está em processo de certificação.
O terreno foi rigorosamente estudado antes da aquisição para que ficasse em local próximo do trabalho dos proprietários e perto de três das principais avenidas da cidade.
Certificação em Residências
Os proprietários da casa, em conversa com a arquiteta, demonstraram interesse em certificar sua residência.
Mas por que certificar uma casa?
Feita dessa forma, a pergunta não parece tão óbvia, afinal, esse tipo de construção geralmente não tem fins comerciais. Não seria mais fácil apenas incorporar estratégias sustentáveis na residência ao invés de certificá-la? Certamente essa seria a questão que acompanharia a primeira e o proprietário da casa, Henrique Cury, as responde de forma bem simples.
“São Paulo é uma cidade difícil. Nós, paulistanos, compartilhamos um sentimento ambíguo pelo local que nascemos e vivemos. Uma cidade onde tudo é destruído para ser reconstruído sem nenhuma preocupação histórica, urbanística e, principalmente, sustentável. Construir uma casa na cidade onde crio meus filhos é uma questão complicada para quem está inserido no mercado sustentável como eu. De que adiantaria construir mais uma casa, conseguir os melhores preços possíveis e descartar tudo o que for destruído em lixões sem me preocupar com a origem dos materiais que colocarei ou das fontes de água e energia que utilizarei? Vivemos um período de despertar da consciência sustentável e, apesar de incipiente, são necessárias ações para que este movimento aumente. Ao decidir certificar a casa em que morarei com meus filhos, não só me beneficiarei a médio prazo dos sistemas de água de reuso, energia renovável e tratamento do ar de retorno, como ajudarei a não destruir mais a cidade ao descartar os resíduos de maneira correta e ser criterioso na escolha dos materiais. Mais importante que tudo isso, o maior legado desta construção certificada será o exemplo que dou aos meus filhos de 9 e 6 anos, que acompanham de perto todas as decisões referentes aos benefícios que nós e a cidade teremos ao adotar estas práticas sustentáveis.” Depoimento interessante, que demonstra um dos aspectos mais importantes da certificação no contexto atual: dar o exemplo.
Tendo esses valores em mente, proprietários e arquiteta decidiram pela certificação GBC Casa. Lançada em agosto de 2014, atualmente a certificação já conta com 2 casas certificadas e outras 9 em processo de certificação que devem finalizar no primeiro semestre de 2015 (GBC Brasil, 2015).
Além disso, outras 11 casas estão no pipeline para iniciarem o processo. A residência desse artigo tem a pretensão de ser a primeira casa certificada pelo GBC Casa sem contar as que fizeram parte do projeto piloto.
O conceito arquitetônico se baseia em três elementos principais:
– Vegetação, para controlar o microclima, ajudar na permeabilidade do terreno e promover a biodiversidade;
– Pinus, por ser uma madeira não nativa e de ciclo de renovação rápida e;
– O branco, para refletir a radiação solar incidente e ajudar no conforto térmico da casa e redução dos efeitos de “ilhas de calor”.
Para compor o time e auxiliar tanto no processo da certificação quanto nas estratégias sustentáveis a serem adotadas, foi contratada a consultoria em sustentabilidade para a construção civil StraubJunqueira.
Dessa forma, reuniões com o proprietário, arquitetura, projetistas, construtora e consultoria ocorrem para integrar o projeto, definir objetivos e evitar retrabalho futuro. Mas, cuidados já vem sendo tomados para reduzir o consumo de água, melhorar a eficiência energética, adquirir materiais ambientalmente preferíveis e garantir a saúde, conforto e bem-estar dos moradores ao controlar a umidade dos ambientes, controlar partículas contaminantes e utilizar exaustão em ambientes que não possuam ventilação natural.
Um ponto muito forte na certificação GBC Casa são os requisitos sociais, em que a informalidade no trabalho é combatida com um pré-requisito. Outras boas práticas sociais também fazem parte da fase construtiva como educação para gestão de resíduos de construção e demolição, desenvolvimento pessoal dos empregados, inclusão de trabalhadores locais, ações para mitigação de riscos sociais e ações para geração de emprego e renda local.
A fase de obras está prevista para ter início em setembro/2015 e para quem ainda se pergunta se vale a pena participar do processo de certificação, a arquiteta Kika Camasmie responde.
“Eu acredito que seja um caminho sem volta. A arquitetura já pensa nessa sustentabilidade, mas o momento que credenciarmos e normatizarmos estas práticas, acabaremos educando toda a cadeia da construção civil.
Hoje existe toda essa dificuldade junto ao projetista, consultor e até para nós, de nos adaptar ao processo. Mas tenho certeza absoluta que eu não consigo mais pensar em uma arquitetura diferente, cada vez eu acredito mais na certificação. Porque, como disse o Henrique, ele queria fazer esta casa para os filhos dele. Hoje a gente pergunta ‘Por quê? Será?’ Sim, tem que ser. O mundo já vem pensando diferente e São Paulo está atrasado. Teve que esperar acabar a água pra começar a se movimentar. Se tivermos que buscar, conscientizar e normatizar um grupo todo, mais pra frente vamos olhar pra trás e falar: nossa valeu muito!”
Artigo enviado por Eduardo Straub da StraubJunqueira
Colaboraram: Henrique Cury, Kika Camasmie, Luiza Junqueira
Referências Bibliográficas: GBC BRASIL. Acesso em: 19 ago. 2015.
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