Energia eólica pode reduzir custo do setor elétrico

O custo de operação do sistema elétrico brasileiro, rateado por todos os consumidores, pode sofrer uma redução de 36% no subsistema Sudeste/Centro-Oeste e de 82% no Nordeste, se forem adotadas modificações no modelo computacional de formação de preços, utilizado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A conclusão faz parte de estudo inédito feito pela Comerc Energia, especializada em comercialização de energia.


A questão é técnica. Na prática, o estudo altera a forma de representação da fonte eólica no “Newave”, modelo matemático computacional oficial utilizado pelo ONS para projetar a programação mensal de operação do sistema, definindo o custo marginal de operação e, consequentemente, a quantidade de energia termelétrica terá que ser produzida no período.

No modelo atual, a energia eólica projetada é abatida da carga de forma determinística, não representando a incerteza na produção de energia dos parques eólicos. A projeção é feita com base em uma média de geração eólica nos últimos cinco anos.

O trabalho da Comerc tratou a energia eólica de forma diferente, fazendo uma representação estocástica da geração eólica a partir de dados históricos reconstruídos de velocidades de vento de 16 coordenadas do Brasil, especialmente nas regiões Nordeste e Sul. Os valores de velocidade de vento foram transformados em energia eólica por meio de curvas de potência de turbinas. As usinas eólicas, então, foram representadas no Newave como se fossem hidrelétricas a “fio d’água” (usinas sem reservatórios de acumulação de água). O estudo utilizou como base os dados do Newave oficial de agosto de 2016.

Por meio dessa metodologia, foi identificada, e reproduzida no Newave, a forte complementariedade entre as fontes eólica e hidrelétrica. Ou seja, durante o período seco, quando o nível dos reservatórios e a produção de energia das hidrelétricas são reduzidos, é justamente quando as usinas eólicas têm a sua maior geração. Esse fator resulta em um custo marginal de operação mais baixo e uma necessidade menor de acionamento termelétrico.

“A geração eólica maior em momentos críticos de hidrologia, dada pela sua complementariedade com a hidráulica identificada nas simulações deste estudo, não apenas contribui para reduzir os custos marginais, como traz o benefício de atenuar a sua volatilidade, reduzindo-se os despachos térmicos e mantendo a segurança na oferta de energia”, diz Juliana Chade, gerente de Estudos de Mercado da Comerc na conclusão do estudo, que foi tema da tese de doutorado da especialista, aprovada na Universidade de São Paulo (USP).

Segundo Juliana, a principal contribuição do estudo é apresentar um diagnóstico sobre a necessidade de aperfeiçoamentos na forma de representação da energia eólica no Newave.

Fonte: Valor Econômico - Rodrigo Polito

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