É por isso que os combustíveis fósseis estão condenados

Um dos argumentos de governos e empresas para não mudar o consumo de energia para fontes renováveis é que isso demandaria um custo muito maior do que os bons e velhos combustíveis fósseis. Embora este argumento possa ter sido verdade, ele está prestes a se tornar parte do passado. Segundo um novo relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), divulgado em sua cúpula anual em 13 de janeiro em Abu Dhabi, na maior parte do mundo, a eletricidade renovável já tem preços competitivos com a energia produzida pelos combustíveis fósseis. Melhor do que isso: o relatório faz a previsão de que até 2020, todas as formas de eletricidade renovável serão consistentemente mais baratas do que a energia produzida pela queima de combustíveis fósseis.

“Mudar para a geração de energia renovável não é simplesmente uma decisão ambientalmente consciente, agora é uma decisão economicamente inteligente”, diz Adnan Amin, dirigente da Irena. Hoje, a energia gerada por combustíveis fósseis geralmente custa entre 0,05 a 0,17 dólares por kWh. Segundo a Irena, este custo está no mesmo patamar do que o de energia gerada por fontes renováveis, como hidrelétrica (0,05 dólares por kWh), energia eólica terrestre (0,06 dólares por kWh), bioenergia e energia geotérmica (0,07 dólares por kWh) e energia solar fotovoltaica (0,10 dólares por kWh).

Outras formas de energia renovável, como a energia produzida pela energia eólica “offshore” (construída em corpos de água) e solar térmica, ainda não são competitiva com os combustíveis fósseis, mas isso deve mudar até 2020. A Irena prevê que o custo da energia solar cairá para 0,06 dólares por kWh e a energia eólica “offshore” para 0,10 dólares por kWh até lá. Os drivers serão desenvolvimento de tecnologia, sistemas de licitação competitiva e grande base de desenvolvedores de projetos experientes em todo o mundo.

Desafios

Apesar de ter seu custo em queda, as fontes de energia renovável ainda precisam superar alguns obstáculos para se tornarem soluções viáveis globalmente. A energia solar fotovoltaica e a energia eólica, por exemplo, são intermitentes (ou seja, possuem intervalos durante sua produção). Portanto, mesmo que os custos de sua geração caiam, outras fontes de energia – normalmente combustíveis fósseis ou nucleares – são necessárias para preencher as lacunas, e os geradores deste tipo de energia poderão cobrar mais por isso.

Varun Sivaram, especialista em energia solar do Conselho de Relações Exteriores, uma entidade americana voltada para assuntos internacionais, aponta que as fontes de energia intermitentes sofrem de deflação de valor à medida que se tornam mais importantes no mix de energia – ou seja, à medida que a participação deste tipo de energia na produção de eletricidade aumenta, o custo de cada novo projeto deve cair para competir. 

Em uma simulação do mercado de energia da Califórnia, ele descobriu que “quando uma grade depende da energia solar para 15% de suas necessidades energéticas totais, o valor da energia solar cai em mais da metade. Com 30% de energia solar, o valor da energia solar diminui em mais de dois terços”, aponta ele no livro Taming The Sun (Domando o sol, em tradução livre).

Uma maneira de superar esses problemas é usar fontes de energia renováveis ou de baixa emissão de carbono mais estáveis, como energia hidrelétrica, geotérmica, solar térmica ou nuclear. Mas a energia hidrelétrica e geotérmica são ditadas pela geografia, uma restrição que não é fácil de superar – além dos problemas ambientais que geralmente desencadeiam.

Em alguns lugares, a energia solar térmica pode ser uma opção, mas continua sendo relativamente mais cara do que outras fontes renováveis, assim como a energia nuclear, que, além de enfrentar altos custos de capital, possui percepções públicas negativas. Outra opção seria desenvolver armazenamento em grande escala de energia, como baterias enormes, mas isso continua sendo uma proposta muito cara.

Se o mundo quiser realmente adotar fontes de energia sem emissão de carbono, a indústria de renováveis ​​terá que superar esses problemas através do investimento em pesquisas básicas. Segundo Sivaram, isso não está acontecendo tanto quanto deveria.

Fonte: Hypescience

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