Em recente artigo publicado pela revista Science de 26 de janeiro, cientistas estimaram que há 11 bilhões de objetos plásticos nos recifes de coral do oceano pacífico das regiões asiáticas. Descobriu-se que a presença de plástico aumenta em até 89% o risco de doenças nos corais. O levantamento identificou a presença de plásticos em 124 mil tipos de corais de mais de 150 recifes entre 2011 e 2014. O oceano pacífico na região asiática concentra 55% dos recifes de coral existentes no planeta.
Os cientistas alertam que esses objetos de plástico podem aumentar ainda mais nos oceanos, chegando a cerca de 15 bilhões em 2025. Isso representará um aumento de 40% em relação a 2014 e pode afetar a vida de 275 milhões de pessoas que atualmente vivem do turismo e dos recursos naturais destes ecossistemas.
Esse é mais um dado alarmante da poluição dos oceanos pelos resíduos plásticos. Uma pesquisa da Ellen MacArthur Foundation apontou que são despejados nos oceanos o equivalente a um caminhão de plástico a cada minuto e estima que, até 2050, os mares terão mais peso em plástico do que em peixes.
A questão da poluição dos oceanos é parte da problemática mais geral da destinação de resíduos pela nossa atual civilização. O modo de produção e de consumo atual, associados à capacidade da humanidade para transformar o meio ambiente e utilizar produtos de curta duração fabricados com materiais de difícil decomposição e reciclagem, constituem as principais causas de inúmeros problemas ambientais.
O volume de resíduos está aumentando substancialmente nas últimas décadas e este fato tem associação com as tendências de consumo pouco sustentáveis, como a compra de artigos desnecessários e a cultura do descarte que aumentam continuamente a quantidade de resíduos e promovem maior contaminação no ambiente.
Além do ambiental, dois outros aspectos devem ser considerados neta questão: o social e o econômico. Social porque diversos problemas de saúde podem advir da contaminação da água, do ar, dos alimentos e do solo. E econômico pelo não aproveitamento desses resíduos, transformando-os em novos materiais por meio da reutilização ou da reciclagem. Este desperdício de recursos acarreta um custo econômico e ambiental maior, pois torna necessária a extração de novas matérias-primas da natureza.
O problema da destinação de resíduos vem se agravando a cada ano devido principalmente ao crescimento da população mundial e a adoção global do modo de consumo ocidental, além da concentração da população em núcleos urbanos e a tendência atual de utilização de bens de consumo de baixa durabilidade ou com obsolescência programada. Há uma expectativa generalizada de que as grandes economias do planeta entrem numa fase de expansão sincronizada e provoquem efeitos positivos de crescimento global. O resultado será o aumento na produção de bens e do consumo e, consequentemente, o de resíduos.
A solução do problema exige um esforço concentrado de toda sociedade, das administrações públicas, do setor privado, das organizações do terceiro setor e, principalmente, do conjunto da cidadania que tem importante papel como consumidores e geradores de resíduos.
Modificar hábitos de consumo exige mudar padrões de comportamento valorizados socialmente e, muitas vezes, reforçados pela influência dos meios de comunicação de massa e de campanhas publicitárias que fomentam determinadas tendências pouco sustentáveis. É necessário que o consumo sustentável e a cultura da reciclagem sejam cada vez mais reconhecidos e aceitos socialmente até chegar a converter-se em novas normas e hábitos. A situação ideal é que cada um assuma a responsabilidade pela destinação do lixo que produz.
Tais mudanças no comportamento das pessoas, dado seu alcance e potencial, só é possível por meio de políticas públicas e do apoio de amplos setores da sociedade. No âmbito municipal, políticas públicas de educação ambiental poderiam esclarecer amplos setores da população sobre os prejuízos causados pelos resíduos na natureza e suas consequências sociais e econômicas. Não basta afirmar que determinados materiais prejudicam a natureza, é fundamental esclarecer como o fazem, a quem atinge, onde e o que pode acontecer.
A Educação Ambiental (EA) tem como característica fundamental uma abordagem orientada para a solução de problemas concretos. O que permite que as pessoas, qualquer que seja sua origem, tomem consciência dos problemas que afetam sua qualidade de vida, esclarecendo suas causas e escolhendo os meios adequados para resolvê-los. Desse modo com a EA as pessoas adquirem a compreensão do problema dos resíduos em profundidade e poderão participar mais efetivamente da escolha de estratégias e ações para resolver o problema.
As campanhas promovidas pelos órgãos públicos para o engajamento das pessoas em ações de tratamento de resíduos são importantes, mas pontuais, não aprofundando na questão. Somente a Educação Ambiental permite que a mudança de comportamento se torne efetiva e consciente como responsabilidade de cada um diante da preservação da vida no planeta.
Imagem: Sablin / iStock / Getty Images Plus
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