Foto: Marco Favero / Diário Catarinense
Mesmo sem estar entre os Estados mais ensolarados do país, Santa Catarina se destaca, cada vez mais, na produção e consumo de energia solar. Já é o quarto colocado em unidades de geração distribuída – casas ou empresas com alguma fonte própria de energia. Das 24,7 mil unidades do país, 24,6 mil são de fonte solar e 2,2 mil ficam aqui. É um número dinâmico, que cresce dia a dia desde 2012, quando foi feita a regulamentação do setor. O Estado só perde para unidades da federação muito mais populosas. Em termos per capita, SC é o líder nacional.
Um conjunto de fatores faz os catarinenses saírem à frente. Segundo o diretor do Instituto Ideal, organização que promove o uso de fontes limpas de energia, Mauro Passos, ao longo da última década o Estado construiu um contexto favorável que hoje começa a dar resultados.
— Fora o próprio instituto, que tem sede aqui e já faz um trabalho há 10 anos, a UFSC é referência neste setor, com o primeiro laboratório solar do Brasil. Muitas pessoas vêm para cá conhecer essas novas tecnologias. Além disso, tem a própria Engie, que é global, mas a sede é aqui, a Weg, o BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul), o Badesc (Agência de Fomento). Então, temos Estados em melhores condições de sol que nós, mas criamos esse “caldo” que faz com que a gente se destaque — explica Passos.
Incentivos beneficiam empresas e pessoas
Os programas de incentivo à aquisição de tecnologia são parte fundamental nesse contexto. E a alta procura por eles mostra que há espaço para avançar muito mais. Neste mês, o projeto Indústria Solar, da Federação das Indústrias de SC (Fiesc), em parceria com a Engie e a Weg, que oferece condições facilitadas a indústrias e pessoas físicas para adquirir sistemas de captação solares, atingiu a marca de 2,3 mil inscritos após quatro meses de programa. O número se igualou à quantidade de unidades consumidoras de energia solar que já existem em SC. Ou seja, quando os sistemas estiverem instalados, dobrará o número dos que usam fontes solares.
Tanto pessoas físicas quanto indústrias se beneficiaram do projeto. O grande estímulo, em especial para empresas, é reduzir o custo da energia elétrica, que em micro e pequenas indústrias representa a terceira maior despesa, conforme levantamento da Fiesc. A economia com a conta pode alcançar 90%.
Outro programa, o Bônus Fotovoltaico, da Celesc, recebeu 11 mil inscrições em uma semana – a meta para Florianópolis, de 200 pedidos, foi batida em apenas sete minutos. Lançada no ano passado, a iniciativa oferecia subsídio de 60%, cerca de R$ 6 mil, para instalação de pouco mais de mil equipamentos solares em residências.
— Por lei, as distribuidoras devem investir 0,5% da receita operacional líquida em projetos de eficiência energética, então desenhamos esse projeto, que nesse formato de bônus (subsídio) é inédito no país. Agora, vamos avaliar o programa para estudar uma segunda edição — diz o gerente do programa de eficiência energética da Celesc, Thiago Jeremias.
A Associação Catarinense de Supermercados (Acats) também aderiu à energia solar ao lançar, há um ano, seu próprio programa de incentivo em parceria com a Engie e com o BRDE, que criou linha de financiamento específica. De acordo com a Associação, a energia elétrica já representa o segundo maior custo dos supermercados, atrás apenas da folha de pagamentos.
No Brasil, a energia solar instalada é de 1 gigawatt (GW), longe dos chineses, líderes mundiais, que têm 34 GW. Mas a expectativa é de um avanço considerável nos próximos anos. O Ministério de Minas e Energia estima que em 2026 cerca de 770 mil brasileiros tenham adotado os sistemas fotovoltaicos, totalizando 3,3 GW.
— Hoje temos todos os pré-requisitos para isso: o custo (para instalação de sistema solar) caiu, e tem linha de crédito — afirma diretor da Engie Solar, Rodrigo Kimura.
Segundo o diretor do Instituto Ideal, além do consumo em residências e empresas, o avanço dos carros elétricos deverá ser um incentivo adicional para a difusão da energia solar nos próximos anos. Mais um ponto a favor para o Estado: SC já conta com uma montadora de carros elétricos, a Mobilis, de Palhoça, na Grande Florianópolis. Caso seja confirmada a vinda da britânica Velfera para Joinville, Santa Catarina terá duas montadoras no segmento.
Foto: Marco Favero / Diário Catarinense
Administração pública de olho em fontes alternativas
Em março, Santa Catarina deu outro passo para popularizar esse tipo de fonte energética. Atendendo a pressões dos últimos anos, o governador Eduardo Pinho Moreira autorizou a isenção de ICMS para microgeração de energia distribuída. A medida abrange, além da geração solar, a hídrica, eólica e de biomassa.
Nesse cenário, até mesmo a administração pública começa a olhar para as fontes alternativas. A prefeitura de Imbituba, no Sul do Estado, encomendou um estudo, a ser apresentado no mês que vem, para implantar um sistema de captação solar na cidade. A intenção é utilizar a estrutura de uma escola para fazer uma usina, que geraria energia suficiente para abastecer as 24 unidades municipais de ensino. Hoje, a despesa anual com luz por unidade varia entre R$ 120 mil e R$ 180 mil.
Na visão do diretor da Engie Solar, Rodrigo Kimura, todas essas iniciativas consolidam Santa Catarina como precursora de ações para massificação da fonte solar.
— Diversos outros Estados estão interessados em levar esse modelo daqui para replicar — afirma Kimura.
Custo de instalação ainda é alto, mas tende a cair
Embora o custo da instalação de um sistema solar ainda não seja acessível a todos – para uma casa sai, no mínimo, R$ 10 mil –, caiu ao longo dos anos, uma tendência mundial. O valor do equipamento fotovoltaico passou de US$ 76 dólares por watt no mundo, em 1977, para US$ 0,30 por watt, em 2015, conforme a Associação Brasileira de Energia Solar (ABSolar).
— Até sob o ponto de vista do consumidor individual você tem um tempo de retorno bastante atrativo. São no máximo seis anos de retorno do investimento para um equipamento com vida útil de 25 anos. Além disso, a energia solar traz sentimento de que você gera o que precisa, então as pessoas são simpáticas a essa fonte — diz o diretor do Instituto Ideal, Mauro Passos.
Para empresas, o tempo de retorno pode ser maior. Em Florianópolis, a Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal concluiu neste mês a instalação de pouco mais de 300 painéis solares. O retorno do investimento de R$ 375 mil deve vir em oito anos. A estimativa é que a conta de luz reduza em 40%.
— É um investimento alto, mas tem um retorno — conclui o presidente da associação, Marco Antonio Zanardi.
O que é a geração distribuída
É a geração de energia elétrica, em casas ou empresas, para consumo próprio. Quase sempre é de fonte solar, com painéis fotovoltaicos instalados em telhados, que captam a radiação do sol. Qualquer excedente é depositado na rede elétrica e se transforma em créditos junto à distribuidora, com validade de até cinco anos, para abatimento na conta de luz. Esses créditos são utilizados nos momentos em que a unidade estiver consumindo mais energia do que gerando, como em dias de chuva ou à noite.
A geração distribuída foi regulamentada no Brasil apenas em 2012. A legislação foi atualizada em 2016, quando houve aumento da capacidade de geração por unidade. Tem vantagem sobre a geração central porque economiza investimentos em transmissão e reduz as perdas nestes sistemas, melhorando a estabilidade do serviço de energia elétrica.
Fonte: Engie e Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE).
O ranking nacional
Unidades consumidoras com geração distribuída no Brasil por Estado. Em termos per capita, SC é líder nacional.
MG: 5.206
SP: 4.759
RS: 2.890
SC: 2.230
RJ: 1.831
PR: 1.643
CE: 840
ES: 712
GO: 552
BA: 542
Fonte: DC
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