Chamados fundos de impacto vêm crescendo no país e começam a surgir opções para pessoas físicas.
A Bolsa de São Paulo – Marcos Alves / Agência O Globo/10-8-2017
SÃO PAULO – Bastante comuns na América do Norte e na Europa, os chamados fundos de investimentos de impacto aos poucos começam a ganhar espaço no mercado brasileiro. A proposta é garantir retorno das aplicações e, ao mesmo tempo, ajudar projetos voltados para o meio ambiente e melhores condições de vida da população — por exemplo, fomento à reciclagem e instalação de placas de energia solar na casa de famílias de baixa renda.
— Investimento de impacto é uma prática muito específica, em que apenas se investe em empresas cujos produtos ou serviços intencionalmente contribuem positivamente para a sociedade, ou o meio ambiente, e esse impacto é mensurável — diz o gestor especialista na área Rodrigo Tavares.
Pioneira do setor no Brasil, a Vox Capital investe em empresas de tecnologia que desenvolvem soluções para os problemas que atingem a baixa renda, em áreas como educação, saúde e serviços financeiros. Fundada em 2011, a gestora opera um fundo de impacto com R$ 117,2 milhões em aplicações. Também é uma das organizadoras do Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, principal encontro da área no Brasil, cuja terceira edição será realizada em junho, em São Paulo.
Já a MOV Investimentos opera um fundo que dá prioridade a projetos de impacto ambiental e tem por meta obter rentabilidade de 20% ao ano. Mas, admite Martin Mitteldorf, sócio da gestora, o foco na solução de problemas socioambientais faz com que o retorno financeiro fique abaixo de fundos mais agressivos.
Outro problema é que esses fundos de impacto têm restrições quanto ao tipo de investidor. Eles são classificados como fundos de investimento em participações (FIPs), acessíveis apenas a investidores profissionais — ou seja, pessoas físicas ou jurídicas que têm ao menos R$ 10 milhões aplicados no mercado. Mas, como o interesse nesse tipo de aplicação vem crescendo, algumas gestoras abriram fundos de investimento em cotas (FICs), que captam no varejo e aplicam nesses FIPs de impacto social. Por essa via, o investimento inicial é bem menor.
Um desses fundos é o AZ Quest Azimut Impacto FIC, lançado em 2016 pela AZ Quest, que pede aplicação inicial mínima de mil reais, com os aportes seguintes a partir de R$ 500. A taxa de administração é de 1% ao ano, e o fundo é classificado como multimercado.
Neste fundo, a gestora aplica os recursos em ativos de mercado (CDBs, Tesouro Direto e outras opções convencionais). O investidor fica com a rentabilidade dessas aplicações, e a gestora destina parte de seu ganho a incubadoras de negócios de impacto social. Os projetos são escolhidos por um conselho formado por profissionais ligados a negócios de impacto social.
PRESSÃO SOBRE BANCO OU ASSESSOR FINANCEIRO
Otávio Ottoni, da Kaeté Investimentos, que administra R$ 100 milhões em ativos e é gestor de um fundo de impacto que investe em ações socioambientais na Amazônia, diz que atualmente seu foco tem sido a captação junto a investidores institucionais, holdings familiares e outros fundos. O valor mínimo de investimento em seu fundo é de R$ 1 milhão, mas a ideia é facilitar o acesso para o investidor pessoa física.
— Estamos estudando novas formas para captação direta por meio de plataformas de crowdfunding, como a Kria (antiga Broota), que possibilitam à pessoa física investir em empresas, inclusive as que têm foco em impacto socioambiental, com aplicação mínima de R$ 500 — explica Ottoni.
Negócio de impacto é o termo normalmente usado para as empresas alvo desses fundos. A Avante, uma empresa de soluções financeiras para microempreendedores em regiões de baixa renda, por exemplo, é beneficiária de recursos investidos pela Vox, que detém parcela de seu capital.
Segundo levantamento da Pipe Social, em 2016 havia 579 empresas brasileiras, sendo 70% delas formalizadas, classificadas como negócios de impacto.
Os gestores dos fundos de impacto ouvidos pelo GLOBO ressaltam que há gradações importantes entre o investimento comum e os chamados de impacto. E recomendam, a quem quer entrar no segmento, em primeiro lugar, “tomar ciência de onde os recursos estão investidos”. Depois, é preciso definir os objetivos do investimento, além do horizonte (curto ou longo prazo), o nível de risco tolerado e quanto da renda atual pode ser destinar.
— Por fim, o investidor precisa identificar as causas que mais o interessam e começar a pressionar seu banco, ou assessor financeiro, para fornecer produtos que atendam tanto a seus objetivos de investimento quanto a suas causas pessoais — diz Gilberto Ribeiro, da equipe de Operações da Vox.
*Estagiário, sob a supervisão de Ronaldo D’Ercole
Fonte: O Globo
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