Embora investimento seja alto, retorno econômico e ambiental são bastante consideráveis.Painéis fotovoltaicos estão instalados na entrada de empreendimento. FOTO: ASSESSORIA/HIBISCUS
Alagoas é rico em belezas naturais que encantam tanto quem vive por aqui, como quem vem conhecer o lugar. A região de terra fértil, onde o sol brilha forte e prevalece na maior parte do ano, pode ser explorada não apenas pelo turismo. É um dos estados do país com grande potencial para geração de energia limpa através da luz solar e dos painéis fotovoltaicos.
Por aqui, essa alternativa ainda é pouco utilizada. Em parte pela falta de conhecimento técnico, em outra pelo valor alto de investimento. No entanto, quem já aderiu à produção e consumo consciente por meio deste sistema gerador de energia, afirma que vale a pena e que o bolso agradece, já que a curto prazo a economia é garantida, e o meio ambiente, por ser o sol uma matéria-prima inesgotável, fica preservado.
O empresário Vanderlei Turatti está à frente da administração do Hibiscus Beach Club, em Ipioca, no Litoral Norte do estado há pouco mais de cinco anos. Durante este período, o consumo de energia sempre foi alto e um dos seus maiores desafios, já que quando passou a comandar o empreendimento tinha como missão tornar o local 100% sustentável.
Há um ano, ele resolveu investir e aderiu à produção de energia solar através dos painéis fotovoltaicos. O custo foi alto. Girou em torno de R$ 400 mil, mas o retorno vem em uma proporção ainda maior. “Atualmente 60% da energia que consumimos aqui é produzida por nós mesmos. É um investimento que traz resultados muito positivos. Para se ter uma ideia, passamos a economizar mensalmente cerca de R$ 13 mil, ou seja, daqui a pouco mais de 2 anos eu vou conseguir pagar o que gastei somente com o que temos economizado na redução do preço da conta de luz”, observa.
Ele conta que a energia solar apareceu para ele como uma solução às frequentes quedas de energia e o consequente uso do gerador para manter o lugar em pleno funcionamento. “Eu me lembro que chegou a faltar aqui 25 vezes em um único dia. Depois disso, decidi que algo precisava ser feito. Contratamos uma empresa. Ela fez o projeto e apresentamos à Eletrobras, que aprovou o material. Daí em diante passamos a utilizar essa fonte e nos livramos de um custo muito alto com eletricidade”, disse.
Inversor solar mostra quantidade de CO²
que não foi jogada na atmosfera.
FOTO: MADYSSON WESLLEY
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E se a economia pode ser vista nas cifras, no meio ambiente a redução de gás carbônico foi notada de uma maneira bastante significativa. De acordo com o inversor solar – aparelho utilizado para inverter a energia elétrica produzida pelos painéis de uma corrente contínua para uma corrente alternada e garantir a segurança do sistema, além de medir a energia produzida – desde o período em que os painéis passaram a ser utilizados, mais de 48 toneladas de CO² deixaram de ser jogadas na atmosfera. O aparelho aponta também que já foram produzidos mais de 68 mil kWh de energia em um total de 5.576 horas trabalhadas.
Filipe Duarte, dono da loja Ipanema Construções, no bairro do Poço, na capital, também decidiu investir no segmento. Ele conta que sempre foi muito curioso e se interessava pelo assunto, até que um dia, um vendedor chegou até o estabelecimento distribuindo um material de propaganda sobre os painéis. Ele entrou em contato e pouco tempo depois instalou o recurso.
“Hoje, 100% da eletricidade que consumimos na loja e na casa que moramos é gerada através da energia solar. Precisei investir cerca de R$ 100 mil, mas o resultado foi tão positivo, que em novembro, após concluir o financiamento no banco, já pretendo aumentar o sistema. Antes, pagávamos uma média de R$ 2.800,00 na conta de luz. Agora, o valor caiu para R$ 300. Além do dinheiro, também é importante para nossa empresa, pois isso mostra o quanto somos preocupados com a questão ambiental”, fala.
O ecólogo Mateus Gonzalez, da empresa de consultoria Teia Serviços Ambientais, afirma que a energia proveniente do sol é altamente viável e bastante positiva. Ele analisa, que embora o custo ainda seja alto, há uma tendência natural que ano após ano, esse valor diminua e muito mais pessoas passem a consumir eletricidade produzida por meio da luz solar.
“Diferente das hidrelétricas, que usam a água – um recurso que pode chegar ao fim – e causam muitos danos ambientais nas regiões onde as usinas são instaladas, os painéis geram energia através do sol, fonte inesgotável e renovável. Eles não causam impactos ambientais e são uma solução para o grave problema enfrentado pelo país de tempos em tempos com as crises hídricas”, fala.
No ano passado, o município de Marechal Deodoro, na região metropolitana de Maceió, encerrou as atividades no lixão da cidade. Gonzalez, que também é secretário de meio ambiente de lá, informou que existe um projeto para o lugar, antes tomado por dejetos e entulhos, que deverá se tornar um parque de produção de energia solar.
“Caso o projeto dê certo e seja viabilizado, a energia produzida lá será redirecionada para os órgãos públicos municipais. Isso vai gerar uma economia considerável para o município com as contas de luz e o dinheiro poderá ser revertido para outras ações”, explica.
Na ilustração abaixo, é possível entender de uma maneira mais eficaz como funciona a geração e o consumo de energia através dos painéis, mas o ambientalista também exemplifica. “Se uma estação gera 100 kWh e eles são lançados na rede elétrica – é importante dizer que a energia dos painéis não vai direto para as tomadas ou aparelhos eletrônicos, ela vai para a rede e depois volta para o consumidor – e ele consome 120 kWh, isso significa que ele tem um crédito de 100 kWh, ou seja, ele só pagará o excedente dos 20 kWh, que não conseguiu produzir”, fala.
lustração mostra como funciona a geração e consumo de energia solar. FOTO: REPRODUÇÃO
Além disso, de acordo com regras criadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), quem instala o sistema em casa ou em empreendimento e conecta à rede elétrica local, passa a integrar o sistema de compensação de energia, os chamados créditos. O governo também passa a isentar o ICMS sobre a energia gerada.
Segundo dados fornecidos pela gerência de recursos energéticos da superintendência de Energia e Mineração da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur), mais de 140 consumidores, entre residências, estabelecimentos comerciais, indústrias e imóveis na Zona Rural, já produzem juntos um total de 1,4 Megawatts de eletricidade, de acordo com informações da Eletrobras e da Aneel.
Produção em Alagoas
Instalada em Marechal Deodoro, a Pure Energy é a única fabricante de placas de energia solar de Alagoas e que deve iniciar o processo de comercialização de painéis fotovoltaicos até o final deste ano. Por trabalhar com a fabricação de peças altamente tecnológicas, o processo precisa passar por diversos testes e receber várias certificações. Por isso, mesmo o primeiro painel tendo sido produzido em fevereiro do ano passado, eles ainda não estão sendo vendidos.
De acordo com o diretor presidente da empresa, Gelson Cerutti, a energia solar é um segmento, que tende a crescer muito nos próximos anos. “Existe uma pesquisa internacional que aponta que, até 2040, o Brasil terá cerca de 31% da sua matriz energética proveniente da energia solar. Deste total, 27% será produzido em pequena escala, em locais como comércios, residências, indústrias e negócios de pequeno e médio porte”, ressalta.
Em Alagoas, ele conta que existem diversos projetos funcionando e outros em fase de implantação. Cerutti fala também que uma das principais vantagens para a aquisição dos painéis é o fato de instituições como o Banco do Nordeste (BNB) e o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) estarem financiando a compra dos equipamentos.
“É interessante dizer que os bancos só financiam os painéis produzidos no Brasil, justamente para incentivar e fortalecer a indústria no país. Nossa ideia para Alagoas é investir em funcionários capacitados e transformar a indústria em uma referência na produção deste tipo de material”, diz.
O empresário compara a situação do Brasil a de outros países. “Na Alemanha, a incidência dos raios solares é infinitamente menor que a nossa, mas a energia solar já representa 70% do total produzido lá. Imagina aqui, com todo esse sol. É sucesso garantido. Fora isso, tem o custo com manutenção, que é muito pequeno, já que os painéis têm vida útil de 25 anos, em média”, finaliza.
Fonte: Gazetaweb.com
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