Ultrapassando a recessão econômica do país, o setor brasileiro de energia renovável está retomando seu ritmo novamente. Na próxima sexta-feira (31 de agosto), o país realizará nova licitação para contratar energia de usinas eólica, de biomassa e hidrelétrica, entre outras. Mais dois leilões para instalações operacionais estão planejados até o final do ano.
Renováveis Agora se conecta com Juliana Vasconcelos, Coordenadora de Investimentos Estrangeiros Diretos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) para discutir opções de financiamento para energia renovável no Brasil.
P: Como os investidores veem o mercado brasileiro de energia renovável?
R: O Brasil é o terceiro maior mercado de energia renovável do mundo, atrás da China e dos Estados Unidos, se levarmos em conta a energia hidrelétrica. No entanto, essa fonte não mais domina a expansão da capacidade de geração nos próximos anos. Solar, eólica, pequenas hidrelétricas e biomassa são as principais tecnologias para projetos futuros.
A energia eólica, em particular, deverá se tornar a segunda maior fonte de eletricidade do Brasil (após usinas hidrelétricas (HPPs)) em 2019. No momento, a biomassa é a segunda maior fonte.
É importante ter em mente que, de acordo com o Plano Decenal de Energia 2026 (PDE 2026), o Brasil deverá aumentar a capacidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) para um total de 212,5 GW. As fontes não-hídricas serão responsáveis por cerca de 50% das novas adições.
P: No Brasil, o BNDES e o Banco do Nordeste (BNB) são algumas das principais instituições em termos de financiamento de projetos renováveis. Na visão da Apex, o que um investidor precisa saber sobre sua estratégia de longo prazo para o financiamento de energia renovável?
R: O BNDES é historicamente o maior credor. O banco de desenvolvimento geralmente oferece financiamento para até 80% dos custos de capital em energia solar e até 70% dos custos de capital no segmento eólico, mas as linhas de financiamento são altamente específicas para o modelo de negócios.
No entanto, mudanças recentes na política fiscal agora favorecem outras opções de financiamento do mercado. O BNB, por exemplo, tem grande representatividade no setor financeiro com taxas competitivas e (diferentemente do BNDES), também trabalha com painéis importados.
Após a reforma da estrutura de capital do BNDES e a transição das taxas de TJLP para taxas de juros de mercado, as oportunidades estão se abrindo para que os bancos comerciais forneçam financiamento competitivo de longo prazo. O país possui outras opções, como o FNO Energia Verde do Banco da Amazônia e o financiamento individual por meio de Fundos Constitucionais, entre outros.
P: O que os investidores precisam saber para construir um modelo bem-sucedido de financiamento de energia renovável usando títulos e financiamento climático? E sobre trabalhar na moeda local (BRL)?
R: O modelo financeiro depende da estratégia de cada empresa. Certamente, é necessário levar em conta estratégias para minimizar os riscos de possíveis flutuações nas taxas de câmbio.
A dolarização de contratos de compra de energia de longo prazo (PPAs) é usada em alguns países e tem sido objeto de constante discussão e análise pelo governo brasileiro. No entanto, a estratégia, por enquanto, é manter contratos em moeda local e, por causa dos períodos de longo prazo, qualquer variação cambial é geralmente diluída ao longo do tempo.
P: Na visão da Apex, quais são as perspectivas futuras de investimentos no Brasil?
R: Há um mercado em expansão com diversos modelos de negócios. O Brasil também está vendo melhorias em suas leis regulatórias, isenções fiscais para unidades consumidoras na maioria dos estados do país e redução no preço das tecnologias.
O mercado eólico onshore brasileiro é consolidado, mas existem grandes oportunidades para os investidores em parques de geração. Além disso, existe a perspectiva de expansão considerando o potencial offshore.
No que diz respeito às fontes solares fotovoltaicas (PV), ainda é necessário consolidar a procura no mercado regulado nos próximos anos. Por outro lado, há uma tendência crescente de expansão no mercado livre e na geração distribuída. Neste último segmento, a fonte solar representa aproximadamente 80% do total do mercado nacional.
Vale mencionar também a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), programa que faz parte do esforço brasileiro baseado nos compromissos assumidos no Acordo de Paris. A Renovabio tem como objetivo aumentar o uso de biocombustíveis no país, reduzindo assim as emissões de gases de efeito estufa.
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