A recente decisão da General Motors – GM de fechar fábricas nos Estados Unidos e Canadá vai ao encontro da tendência mundial de substituição dos carros movidos por combustíveis fósseis por veículos elétricos.
Segundo declarações de dirigentes da GM, a medida foi adotada como parte do plano da empresa em deixar de investir nos modelos movidos a combustão para concentrar recursos em veículos elétricos e, nesse sentido, duplicar os recursos destinados às tecnologias de propulsão elétrica nos próximos dois anos, acompanhando as mudanças na indústria automobilística.
Neste final de ano, a Volkswagen do Brasil anunciou o lançamento do primeiro caminhão elétrico nacional, que será comercializado a partir de 2022. A fabricante de bebidas Ambev já fez uma pré-reserva para aquisição de 1600 unidades.
Em todo o mundo cresce o número de países que anunciam uma futura proibição da produção e comercialização de veículos a diesel e gasolina. Na Europa, vários países já anunciaram as datas limites. Na França e no Reino Unido a partir de 2040, na Escócia em 2032 e na Noruega e Holanda a partir de 2025.
A China anunciou estar trabalhando num plano estratégico nacional de abandonar a produção e a comercialização de automóveis dependentes de combustível fóssil, e embora não defina uma data específica, dirigentes chineses antecipam que 2025 será o ano chave para o setor automotivo.
A adoção de veículos elétricos é um passo importante no caminho da diminuição dos gases de efeito estufa responsáveis pelo aumento do aquecimento global. Mas para ser realmente sustentável, a medida deve vir acompanhada de outras ações que viabilizem o veículo elétrico como verdadeiro carro ecológico.
Um veículo movido por bateria não contamina o meio ambiente quando em circulação, mas a energia consumida durante sua fabricação, no processo de extração dos materiais utilizados e na produção de eletricidade consumida para sua movimentação pode ser contaminante.
A produção de eletricidade continuará tendo impacto ambiental significativo caso a energia da rede elétrica não tenha origem em fontes renováveis. O Brasil nesse aspecto encontra-se numa boa situação porque a matriz elétrica brasileira é a mais renovável do mundo. Isso porque grande parte da energia elétrica gerada no país vem de usina hidrelétrica. Além disso, está em curso um incremento da obtenção de energia a partir de fontes renováveis como a eólica e a solar.
A matriz elétrica mundial é em sua maioria composta por fontes não renováveis, como o petróleo, carvão mineral e gás natural. Essas fontes não renováveis geram 77% da energia produzida no mundo, provém de usinas que utilizam combustíveis fósseis que geram o CO2, um dos principais gases do efeito estufa. Ou seja, somente 23% da energia elétrica mundial tem origem em fontes renováveis. Na matriz elétrica brasileira, 82% da energia obtida tem sua origem em fontes renováveis e somente 18% é gerada a partir de combustíveis fósseis, como as centrais termoelétricas.
Nesse aspecto, a produção de energia elétrica no Brasil contribui para acentuar as características ecológicas do veículo elétrico gerando menos CO2 não só em sua circulação, mas também na utilização da eletricidade da rede pública. Em termos globais, a tendência é que o impacto no meio ambiente da produção de energia elétrica seja cada vez menor na medida que aumenta a importância da utilização de fontes renováveis, como a eólica e a solar.
Há que se considerar ainda, que além das questões relacionadas ao consumo de energia elétrica existem os problemas associados às baterias dos carros elétricos, que geram impacto ambiental tanto no processo de fabricação das baterias quanto na extração de materiais da natureza e no seu descarte.
Em suma, qualquer planejamento de mobilidade urbana não pode desconsiderar a adoção dos veículos elétricos, especialmente no Brasil, pelo potencial de sustentabilidade propiciado pela matriz elétrica baseada essencialmente em fontes renováveis.
Existem muitas razões para que se adote cautela na decisão pelos carros elétricos, pois envolve muitos outros aspectos além da circulação, que sem dúvida, é sustentável na medida que zera a emissão de gases e torna mais saudáveis as concentrações urbanas.
A tendência na adoção de autos elétricos e híbridos é irreversível e provavelmente em menos de dez anos seu custo será competitivo em relação aos carros movidos exclusivamente por combustão de materiais fósseis. Não se trata de futurologia. A limitação para o aumento do uso de veículos elétricos sempre foi a vida útil da bateria, problema que vem sendo estudado e promete ser resolvido com rapidez. O custo de produção de um carro elétrico é inferior aos carros convencionais, pois tem um menor número de componentes.
Como é uma tendência facilmente verificável não faz sentido nenhum planejamento de mobilidade urbana sustentável não considerar o aceleramento da adoção de veículos elétricos, principalmente no Brasil pelas razões expostas neste artigo.
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