Empresa brasileira transforma lixo em biocombustíveis


O fato de os aterros sanitários serem uma ideia ultrapassada já é disseminado e conhecido por aqueles interessados em assuntos ligados ao meio ambiente. O necessário agora é encontrar alternativas para o destino final do lixo, que não o vejam como apenas algo a ser descartado, mas saibam aproveitar suas potencialidades. Exemplo disso é a iniciativa Bnpetro, do brasileiro Jonny Kurtz, presidente da empresa. “O lixo que é visto apenas como algo passivo ambiental poderá se transformar em um ativo financeiro”, comenta sobre a matéria-prima de sua empresa.

Seu trabalho consiste em retirar o lixo que está nos aterros e levá-lo para usinas, nas quais os resíduos, tanto plásticos quanto orgânicos, serão transformados em biocombustíveis. O produto final pode ser utilizado como diesel, gasolina e também matéria-prima para a indústria química e farmacêutica.

Kurtz vem trabalhando no projeto há aproximadamente 25 anos. O empresário vem de uma família de metalúrgicos e começou a pensar em como manejar o lixo enquanto procurava por formas de extração do alumínio. Atualmente, a empresa é financiada pelo setor privado e possui uma usina piloto, no oeste do estado de Santa Catarina, com capacidade de processamento de 100 quilos por hora. De acordo com Jonny, a unidade já comprova a eficácia do projeto. Seus próximos passos são buscar a implementação em escala industrial, com capacidade para o processamento de 700 toneladas de lixo por dia.

Lixo e aterros no Brasil

O trabalho da Bnpetro não beneficia apenas o meio ambiente, mas também a população. No Brasil, de acordo com um levantamento feito pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe) de 2017, o Brasil tem quase três milhões de lixões ou aterros irregulares que impactam a vida de 77 milhões de brasileiros. Dessa forma, quando são pensadas outras alternativas para o descarte de resíduos sólidos, a saúde da população do Brasil é impactada também. O empresário também pretende com a empresa capacitar os catadores de lixo dos aterros. “A gente quer mudar a vida destas pessoas a partir da parceria de capacitação profissional com a Federação das Indústrias do Estado de Rio de Janeiro, a FIRJAN. Não temos que escravizá-las no lixo”, explica.

Os resultantes das usinas da Bnpetro também são menos prejudiciais ao meio ambiente em comparação aos combustíveis extraídos pela indústria petrolífera, pois não são fósseis. “Não tem enxofre no processo, o combustível fóssil tem. Como nós fazemos essa reação dentro do reator que é de aço inoxidável não ocorre a oxidação com o minério de ferro, logo, não tem o enxofre suspenso dentro, nem em formato de gás nem em formato de derivados do petróleo”, explica o presidente da empresa.

Atualmente o que Kurtz procura é expandir seus negócios para o mundo e mostrar como a iniciativa brasileira pode ser viável e introduzida em diferentes locais. O empresário foi a COP 24 para divulgar seu trabalho e também buscar por financiamento. Também sofre com a regulamentação de seu trabalho e com a concorrência com os setores petroquímicos, uma vez que o que propõe, uma ideia de economia circular para produzir combustível e dar um fim correto ao lixo, vai contra ao que a indústria do petróleo vem fazendo. “É uma mudança de paradigma neste setor na questão ambiental”, conclui.

Por Pedro Garcia e Rafaela Bonilla são correspondentes do CicloVivo na COP 24, Conferência Mundial do Clima que acontece em Katowice, na Polônia.

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