O documentário da BBC (Climate Change – The Facts) mostra que o crescimento das atividades antrópicas, impulsionadas pelo uso generalizado de combustíveis fósseis, está gerando um aquecimento global sem precedentes no Holoceno (últimos 12 mil anos), com consequências catastróficas para a vida no Planeta. No vídeo, o grande ambientalista, Sir David Attenborough, entrevista alguns dos principais cientistas climáticos do mundo e aponta possíveis soluções para essa ameaça global. Uma das soluções imprescindíveis é a mudança da matriz energética global.
Uma boa notícia é que as fontes renováveis de energia responderam por cerca de um terço de toda a capacidade de energia global em 2018, segundo relatório divulgado no início de abril de 2019 pela Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA). As renováveis foram responsáveis por 63% da capacidade líquida instalada em 2018.
A IRENA mostrou que foram adicionados 171 GW de nova capacidade de energia renovável em 2018, um aumento anual de 7,9%. Este aumento foi impulsionado principalmente pelas novas adições de capacidade eólica e solar. Isso eleva a capacidade total de geração de energia renovável para um total de 2.351 GW no final de 2018, representando cerca de um terço da capacidade instalada total de eletricidade do mundo.
Como mostra o gráfico abaixo, a energia hidrelétrica continua sendo a maior fonte de energia renovável baseada na capacidade instalada, com 1.172 GW, seguida pela energia eólica com 564 GW e energia solar com 480 GW. O grande destaque da nova capacidade instalada em 2018 foi da energia solar, com acréscimo de impressionantes 94 GW. A energia eólica adicionou cerca de 50GW, a hidrelétrica adicionou 20 GW e a bioenergia e a geotérmica com acréscimos modestos.
A IRENA também mostrou que houve crescimento de energia renovável em todas as regiões do mundo, embora em níveis variados. A Ásia respondeu por 61% da nova capacidade em 2018 (ligeiramente abaixo do ano passado) e resultou em 1,024 Terawatt de capacidade renovável (44% do total global). Ásia e Oceania também foram as regiões de maior crescimento, com expansão de 11,4% e 17,7%, respectivamente. A Europa cresceu no mesmo período do ano passado (+24 GW ou variação de 4,6%, ficando com 23% da participação global). A expansão na América do Norte se recuperou ligeiramente, com um aumento de 19 GW (mais 5,4%) e participação global de 16%. A África acrescentou 3,6 GW (mais 8,4%), mas com participação de somente 2% na capacidade global. A América do Sul aumentou 9,4 GW (mais 4,7%), representando 9% da capacidade global.
O crescimento das energias renováveis (especialmente solar e eólica) é, indubitavelmente, uma boa notícia, tanto no sentido de cumprir as metas climáticas do Acordo de Paris (de 2015), quanto as metas do Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os países que aproveitam ao máximo o potencial de renováveis se apropriam de uma série de benefícios socioeconômicos, além de descarbonizar suas economias.
Além disto, as energias renováveis são a alternativa diante da iminência do Pico do Petróleo. Artigo do site The Beam, mostra que, sem novos investimentos, a produção global de petróleo – todas as fontes não convencionais – cairá em 50% até 2025, conforme a figura abaixo. A produção anual global de petróleo pode diminuir em aproximadamente seis milhões de barris por dia a partir de 2020. Alguns países produtores de combustíveis fósseis (e não somente a Venezuela) já convivem com a queda da produção.
Desta forma, mesmo diante do avanço da produção de energia renovável, os desafios são cada vez mais urgentes. O ritmo da transição energética tem se mostrado lento diante da gravidade dos desafios ecológicos e da inevitabilidade do Pico de Hubbert. Como a população e a economia mundial continuam crescendo em volume, aumentam, em consequência, a extração de recursos do meio ambiente, elevam as emissões de gases de efeito estufa (GEE), acelerando o aquecimento global, o que aumenta a Pegada Ecológica do Planeta e reduz a biocapacidade e a biodiversidade (ver o vídeo da BBC: Climate Change – The Facts).
Artigo de Nafeez Ahmed (Motherboard, 27/08/2018) mostra que os cientistas alertam a ONU sobre a possibilidade do fim iminente do capitalismo, pois um abandono dos combustíveis fósseis, necessário para deter as mudanças climáticas, significa que a economia mundial fundamentalmente precisará mudar. O capitalismo emissor de CO2, como o conhecemos, acabou e não oferece respostas para os desafios do século XXI.
Assim, o processo de transição energética e o fim do uso dos combustíveis fósseis, a despeito dos avanços, pode chegar tarde e não ser suficiente para evitar um colapso ambiental. Se o Planeta se transformar em uma estufa e ficar inabitável, não haverá mais Dia da Terra, pois o colapso ecológico será também um colapso civilizacional. Será o verdadeiro fim da história humana e os únicos culpados serão os próprios seres humanos.
Artigo: José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Referências:
The Beam The Largely Ignored Problem Of Global Peak Oil Will Seriously Hit In A Few Years.
April 18th, 2019
IRENA, Renewable capacity highlights, 31 March 2019
Nafeez Ahmed. Scientists Warn the UN of Capitalism’s Imminent Demise, Motherboard, 27/08/2018 https://motherboard.vice.com/en_us/article/43pek3/scientists-warn-the-un-of-capitalisms-imminent-demise
BBC. Climate Change – The Facts https://www.youtube.com/watch?v=0ypaUH57MO4
Nenhum comentário:
Postar um comentário