Painéis solares ficaram mais baratos e eficientes, fazendo com que mais gente apostasse nessa fonte de energia. Foto: Pixabay
Energia solar era coisa de nerds até bem pouco tempo atrás. Gente que comprava kits de células fotovoltaicas para instalar em casa, cientistas de universidades ou poucas empresas com centros de pesquisas na área, ou empresários que viam uma oportunidade de negócio mesmo com o enorme custo da tecnologia. Isso mudou radicalmente na última década e a energia solar entrou no jogo para ser uma das principais fontes no mundo. No Brasil, sua história é a antítese do que ocorreu com outra tecnologia, a nuclear.
O Estado brasileiro carrega desde os ano 70 um enorme programa de energia nuclear. Construiu com dinheiro público duas usinas caras e problemáticas, e tem uma terceira travada por uma combinação de custos inviáveis e corrupção. Foi uma aposta do modelo econômico implantado pela ditadura militar: centralizado e pesado, com uma imaginada importância estratégica para o país por causa do domínio da tecnologia nuclear.
No mês passado, os nerds puderam comemorar uma vitória em solo brasileiro: a capacidade instalada da energia solar fotovoltaica ultrapassou a nuclear, chegando a pouco mais de 2 GW de potência. Foi um fenômeno descentralizado, com milhares de instalações em residências, comércios, indústrias e usinas solares majoritariamente implantadas por empresas privadas. O mais importante é que a participação do Estado foi na dosagem certa: leilões feitos pela Aneel permitiram que a energia solar ganhasse escala no país como fonte de energia reserva, que conta com uma garantia de pagamento mais elevada do que a de outras fontes.
O avanço da energia solar no Brasil faz parte de uma onda global. A tecnologia melhorou muito nas últimas décadas, com pesquisas que aumentaram o rendimento dos painéis (mais energia por metro quadrado) e facilitaram a fabricação das células fotovoltaicas. Na outra ponta, entusiastas da tecnologia criaram uma primeira fase de demanda e foram acompanhados por governos e empresas preocupados com a busca de uma fonte energética menos poluente – motor que também levou à adoção em grande escala da energia eólica.
A primeira célula fotovoltaica foi criada na década de 50 nos Laboratórios Bell, onde também foi criado o transístor (que trouxe consigo a revolução digital). Ela produzia 1 watt de potência a um custo mais de 100 vezes maior do que em usinas a carvão. Foram décadas de custos em queda. Segundo a Irena (International Renewable Energy Agency), o preço por watt de potência oscilava entre US$ 2 e US$ 3, em 2010, e hoje já está entre US$ 0,50 e US$ 0,70 por watt, o que deixa a tecnologia competitiva até diante dos combustíveis fósseis. A capacidade instalada no mundo se multiplicou: foi de 8,7 GW, em 2007, para 387 GW, em 2017.
A evolução da energia solar contou com apoio de governos, é claro. Muitos subsidiaram suas indústrias e aceleraram a implantação de parques solares. O efeito, no entanto, foi em grande medida de descentralização de poder, já que a maior escala reduziu custos inclusive para quem instala um painel em sua casa economizar na conta de luz.
No Brasil, já são mais de 50 mil sistemas de microgeração solar. Eles se somam a grande parques geradores implantados por empresas que veem um potencial que pode ser enorme – são 73 usinas em funcionamento no país, segundo a Absolar, associação que representa o setor. Há, portanto, uma diluição de riscos entre pequenos e grandes investidores, o que torna o sistema de geração ainda mais robusto.
É claro que a energia solar é uma solução que precisa ser combinada a outras porque depende do sol para funcionar. Ela precisa que outras fontes entrem à noite em seu lugar, ou que sejam instaladas baterias em massa, algo que ainda está engatinhando no país. Como a tecnologia de armazenamento também tem ficado melhor e mais barata, a tendência é de que essa limitação seja cada vez menos problemática para pequenos usuários.
Enquanto isso, o custo projetado para Angra 3 já ultrapassa os R$ 23 bilhões. Um cálculo feito pelo Instituto Escolhas mostra que se Angra 3 fosse descomissionada no ponto em que está e fosse substituída por parques solares no Sudeste, haveria uma economia de R$ 12,5 bilhões em 35 anos. Mas isso não será feito, porque o sonho militar com a energia nuclear está mais vivo do que nunca.
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