Foto: Divulgação John Deere
Desde os primórdios, o homem queimava as florestas para obter calor e energia. E nos tempos atuais, a combustão ainda é fonte de energia. Na matriz energética brasileira, por exemplo, a queima de biomassa e de carvão mineral representa 10,5%, isso é 18.039 Megawatt (MW) da energia consumida no Brasil.
Uma das principais fontes desta energia são as florestas energéticas, em especial de pinos – mais comum no Sul do país- e de eucaliptos no restante do país. De acordo com um estudo do Instituto de Bioenergia e Meio Ambiente (IEMA) é possível produzir energia elétrica a partir da biomassa de eucalipto suficiente para reduzir em um quinto as emissões do sistema interligado nacional (SIN).
Segundo Vinicius de Sousa, pesquisador no IEMA, a capacidade instalada das florestas energéticas corresponde em aproximadamente 0,3% da matriz elétrica nacional. Projeções do IEMA indicam que essa fonte teria potencial para chegar a 5,6% em 2030 caso sua contratação em leilões fosse ampliada e ela fosse usada para substituir térmicas a carvão ao fim de seus contratos. “Contudo, ainda seria necessário avaliar aspectos territoriais, ambientais e sociais mais profundamente antes de tomar essa decisão,” pontua.
Para propiciar alternativas de energias renováveis que compensam a intermitência das energias eólicas e solares, foi realizado pelo IEMA o estudo “Florestas Energéticas: potencial da biomassa dedicada no Brasil”. O objetivo foi avaliar o potencial de aumento da participação de biomassa de madeira na matriz elétrica do Brasil, tendo em vista as necessidades do setor elétrico e a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês) brasileira no âmbito do Acordo de Paris. “Nesse sentido, o eucalipto foi selecionado devido à experiência nacional com o seu cultivo para reflorestamento”, pontua Sousa. No documento de 2015, o Brasil se comprometeu reduzir as emissões de gases estufa em 37% em relação aos níveis de 2005 considerando toda a sua economia.
Ainda provou que o potencial da biomassa de eucalipto é expressivo. Em um cenário mais ambicioso, as projeções mostraram que com a restauração de florestas para produção de biomassa chegaria a 6,3 milhões de hectares. Só isso garantiria 52,8% da meta brasileira no Acordo de Paris. Dentro de boas práticas de manejo florestal, 1,6 milhões de hectares seriam mantidos como áreas de reserva legal. Essa floresta plantada teria um estoque de carbono equivalente a 17 vezes as emissões totais do SIN, sem considerar as áreas de reserva legal.
Assim, no estudo estimou-se que a biomassa de eucalipto poderia evitar um quinto das emissões do SIN em 2030 considerando que cada unidade de energia gerada por essa fonte evitaria – por apresentar fator de emissão nulo -uma quantidade de emissões de acordo com o fator de emissão médio do SIN em 2017 (0,09 tCO2e/MWh).
A substituição da queima de combustíveis fósseis foi utilizada apenas para projetar a potencial expansão dessa fonte ao substituir usinas a carvão no término de seus contratos. O estudo do IEMA também não teve a ambição de formular políticas públicas para a expansão da fonte, uma vez que isso exigiria também uma avaliação mais aprofundada de outros aspectos, como o planejamento territorial e ambiental.
“Destacamos também que o potencial da biomassa de madeira tem sido considerado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que lançou estudo sobre o tema no ano passado. Nesse esboço, além da geração centralizada, também se aborda o potencial de uso da biomassa residual de manejo sustentável nos Sistemas Isolados, onde atualmente predomina a utilização de sistemas a diesel, com altos custos e problemas socioambientais relacionados”, afirma Vinicius.
Números
Não existem dados públicos sistematizados sobre a produção de energia a partir da biomassa de eucalipto no Brasil. Contudo, dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), há 470,8 MW de capacidade instalada de geração a partir de lenha e resíduos florestais – não necessariamente de eucalipto.
Das 58 usinas existentes, a maior parcela está em Santa Catarina (13), seguida por Mato Grosso (9) e Paraná (8). A maior parte da capacidade instalada também está em Santa Catarina (29%), seguida por Minas Gerais (20%) e Paraná (10%).
No exterior, existem usinas a cavaco de madeira ou resíduos florestais com mais de 50 MW de capacidade instalada nos Estados Unidos, Finlândia, Suécia, Bélgica, Reino Unido, Dinamarca, Japão e Polônia.
Usos
O pesquisador da Embrapa Florestas, Erich Schaitza, pontua que o eucalipto é muito utilizado como fonte de calor e energia na indústria, em especial na do aço. “Nessa indústria não se usa o carvão mineral. A queima das florestas energéticas é uma fonte de energia menos poluente”, explica.
Um segundo uso da energia proveniente do eucalipto é a secagem de grãos, seja por estufas ou secadoras, a madeira é queimada em caldeiras. “Um exemplo é o milho seco usado para a alimentação ou até mesmo para a produção de etanol”, mostra Schaitza. Não menos importante é o uso para a própria geração de energia, um bom exemplo é a indústria de celulose e papel.
Dificuldades
De acordo com o pesquisador da IEMA, um dos gargalos identificados no estudo é o alto preço da madeira, principalmente em regiões com mercado menos consolidado, que leva a altos preços para a energia gerada. Outro são as diferenças na forma de contratação nos setores elétrico e florestal: as termelétricas a biomassa florestal são contratadas para operação variável, enquanto a produção e compra/venda de madeira precisam de previsibilidade.
O pesquisador da Embrapa Florestas concorda, para ele não existe um planejamento de consumo de madeira no Brasil. “Falta um projeto em longo prazo. A produção de energia desta fonte sofre para ser competitiva, afirma. Porém, Erich destaque para a geração de energia para o próprio consumo, a energia gerada pelas florestas energéticas ou a queima de biomassa é mais barata que a adquirida pela concessionária de energia. “O KW da concessionária sai por aproximadamente R$ 0,70, o gerado sai mais em conta”, revela.
Schaitza ainda complementa que o Brasil tem as florestas energéticas mais produtivas do mundo. Mas destaca que devido às mudanças climáticas, a produtividade das florestas têm caído. “Não são problemas, mas sim desafios para nos adaptaa”, reflete.
Fonte: Cejane Pupulin-Canal-Jornal da Bioenergia
Nenhum comentário:
Postar um comentário