Segundo a Agência Internacional de Energia Renovável, a América Latina pode aumentar sua capacidade de energia solar, instalada, em um fator de 40 vezes até 2050. Foto: DINO / DINO
O mercado de energias renováveis latino-americano passou por fortes transformações, nos últimos anos, com fatores de risco político, tendências de investimento, avanços tecnológicos e os impactos econômicos devido à pandemia da covid-19, segundo a BloombergNEF (BNEF), empresa de consultoria de mercados de energia atuais. De acordo com os dados da empresa, em 2019, o Brasil elevou o investimento na capacidade de energia renovável em 74%, US$ 6,5 bilhões, enquanto o México comprometeu US$ 4,3 bilhões, 17% acima, e o Chile US$ 4,9 bilhões, quatro vezes mais. Somente a Argentina conseguiu conter a tendência, com uma queda de 18%.
As economias da América Latina e do Caribe estão passando por um ponto de inflexão, após cerca de seis anos de desaceleração, incluindo dois anos de recessão, a região volta a mostrar sinais de crescimento, informa Diogo Martignago Mariath, graduado em economia (PUC-RS) e mestre em finanças e investimentos pela escola britânica Cass Business School.
"A região passou por uma grande tendência de desaceleração entre 2010 a 2016, movendo o crescimento em média de aproximadamente 6% em 2010, para território negativo entre 2015 e 2016. Essa mudança no padrão de crescimento da América Latina se deve, principalmente, à fragilidade econômica de dois de seus principais mercados, Brasil e Argentina, que sofreram durante esse período os efeitos de uma profunda crise política e econômica", explica Diogo, com mais de 10 anos de experiência em energias renováveis atuando no Brasil, América Latina, Europa e África.
A partir do ano de 2016, diz o especialista, as reformas econômicas e políticas implementadas no Brasil e na Argentina, aliadas ao bom desempenho de outros países da região, contribuíram para a retomada da trajetória de crescimento da América Latina. "Com cerca de 366 GW de capacidade instalada e abrangendo mais de 20 países, a América Latina continua na vanguarda do desenvolvimento de energia limpa. Mas, mandatos ambiciosos de energia limpa e leilões agressivos estão impulsionando o desenvolvimento na região e permitindo que projetos eólicos e solares alcancem preços baixos recordes", declara Mariath.
Segundo a International Energy Agency (IEA), o custo da produção de energia solar caiu 82% desde 2010, e o Brasil ocupa a sétima colocação global em capacidade instalada de energia eólica, um a cada 10 GWh consumidos no país vem do vento. A energia solar cresceu 212% em 2019 e, mesmo com a crise, outros 25% em 2020, hoje ela responde aproximadamente por 1,7% da matriz energética brasileira.
Conforme o mestre em finanças, que foi painelista em Londres pela Conferência de Energia Renovável na América Latina 2019, o México, a Colômbia, o Peru, o Brasil, o Uruguai, a Argentina e o Chile respondem por cerca de 80% da capacidade instalada da América Latina, e são os focos de investidores internacionais em energia limpa. E lembra que o Brasil e o México são os maiores mercados, atraindo maior atenção e foco dos investidores.
No Brasil, a energia eólica atinge a marca de 18 GW de capacidade instalada, 10,3% da matriz elétrica nacional, de acordo com dados apresentados pela Associação Brasileira da Energia Eólica, são 695 parques e mais de 8.300 aerogeradores. Uma década atrás o segmento ainda contava com menos de 1 GW de capacidade e hoje é a segunda maior, ficando atrás apenas da hidrelétrica que possui 58,7% do parque instalado no país.
"Os mercados estão se abrindo para novas oportunidades e compromissos com o setor privado. O investimento está atingindo novos recordes e, como resultado, os mercados estão adotando instrumentos financeiros inovadores, como títulos verdes e títulos de construção para preencher a lacuna no financiamento. E os investimentos em energia limpa na região também estão abrindo novas fronteiras para prestadores de serviços e fabricantes de equipamentos, ampliando, assim, o alcance da indústria e aumentando a riqueza", acrescenta Diogo Mariath, com experiência em análise de investimentos, desenvolvimento de projetos renováveis greenfield para participação em leilões de energia, projectfinance e aquisições
Dados da BNEF comprovam que o investimento na capacidade de energia renovável no mundo subiu para US$ 282,2 bilhões, em 2019, 1% acima dos US$ 280,2 bilhões de 2018, mesmo com um cenário de investimentos globais limitados. Durante a COP25 da Conferência Climática das Nações Unidas em Madri, uma nova iniciativa regional coordenada pela Organização Latino-Americana de Energias - OLADE, estabeleceu planos para atingir pelo menos 70% de energia renovável em eletricidade até 2030.
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