Petroleiras precisam ser rápidas nas mudanças de cenários


Aparentemente, há uma confluência de fatores que estariam apontando para uma queda ainda maior dos preços do petróleo pelo mundo. Hoje na casa dos U$50 por barril, já foram U$ 120, já foram U$20, anteriormente. 

Alguns influenciadores, dentre outros, poderiam estar nessa lista:
  • Automação intensa, visando substituir mão de obra e dar velocidade aos processos, com barateamento da computação e aplicativos industriais 
  • Redes de dados e integração em toda a cadeia produtiva, incluindo tecnologias em nuvem 
  • Enormes reservas provadas para mais de 10 anos de consumo
  • Carros elétricos, de forma compulsória em alguns países a partir de 2040
  • Energia alternativa crescente, como a solar 
  • Enfraquecimento da economia global, com longa duração
  • “Shale gas” com uma excelente capacidade de produção e preços menores
  • Imensos volumes potenciais a confirmar, como as reservas de pré-sal no Brasil e outras
Obviamente, há fatores contrários, principalmente as questões geopolíticas mundiais e possíveis conflitos entre nações, acordos de OPEP e outras organizações, crescimento populacional e demandas por mais energia, dentre outros.

Segundo a consultoria Wood MacKenzie, o mundo consome cerca de 96 milhões de barris por dia de petróleo, sendo 60% na indústria de movimentação e transportes. A chegada do carro elétrico afeta de maneira importante a projeção de consumo, principalmente em regiões mais desenvolvidas. Apesar de parte desta energia vir do gás natural, na geração, mais à montante da utilização.

Com um consumo diário de cerca de 19 milhões de barris, os EUA devem atingir uma produção interna de quase 10 milhões de barris por dia em 2018, segundo a US Energy Information Administration (EIA). O volume diário importado ainda é um número significativo, perto de 3 a 4 vezes o consumo/produção diário brasileiro.

É interessante observar que a Shell, por exemplo, acaba de adquirir a rede de recarga de veículos elétricos NewMotion, visando aproximar-se do consumidor de carros mais modernos em expansão. Pode, assim, horizontalizar seu processo do poço ao posto, ou melhor, do poço à tomada.

A Exxon, também gigante de energia, apostando alto em licitações de blocos em águas profundas, especialmente no Brasil.

Há casos de empresas independentes se aventurando por outros mares, como a independente Murphy, desta vez também no Brasil.

Chinesas adquirindo empresas locais, fazendo empréstimos baratos vinculados ao óleo produzido ou às suas engenharias de origem, assim como fez o Japão em décadas passadas.

Com isto, companhias como a Petrobras tem de ser rápidas em suas mudanças. Sair do que parece não lhe caber mais, que não faça sentido, pelo tamanho e características, ajustando-se rapidamente. 

Mover-se para aqueles outros segmentos que são de seu perfil típico, com mais velocidade. Pré-sal, por exemplo, é um caminho aparentemente aderente ao seu perfil. Produção em terra, em outro exemplo, parece ter pouca relação com sua atual configuração. O que não serve, poderia repassar e monetizar com efetividade.

A empresa parece ter certeza disso tudo, mas não fica claro se está com a liberdade necessária para mover-se com a eficácia requerida.

Que as regras internas de negócio, os órgãos de Justiça e Controle Externo e os políticos atuais permitam-na fazer o que ela identificar como necessário no tempo correto, sob o risco de, em não fazendo, potencializar custos indesejáveis e não ter como respirar ou se ajustar de forma adequada para o bem dela própria e do Brasil.

Fonte: Armando Cavanha, é professor convidado da FGV/MBA

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