Já pensou o quanto seria bom para o meio ambiente e para a sociedade se todo o lixo que produzimos virasse energia?
Esse “sonho” vem se tornando realidade, pouco a pouco, graças a ações isoladas que vêm sendo feitas no país. Uma delas é uma usina, no Paraná, que opera um processo chamado biodigestão.
O projeto paranaense: lixo e esgoto geram energia
A CS Bioenergia, formada pela estatal Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) e pelo grupo Cattalini Bio Energia, recebeu no ano passado, a Licença de Operação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para gerar biogás.
O biogás é gerado através da biodigestão, processo que se inicia com a chegada de lodo à estação de esgoto de tratamento e o seu armazenamento em um tanque, ao mesmo tempo em que chegam, também, os resíduos sólidos. Estes são separados e os plásticos são deles retirados. A parte orgânica é limpa para, então, o material ser enviado ao tanque de biodigestão, onde o lodo será adicionado.
O lodo é um material cheio de bactérias, que se alimentam, por sua vez, de material orgânico, que produz um gás com abundância de metano. O diretor da Cattalini Bio Energia, Sérgio Vidoto, explica que: “Essa é a combinação perfeita para gerar o biogás de excelente qualidade”.
A capacidade de geração de energia elétrica da usina é de 2,8 megawatts, quantidade suficiente para abastecer duas mil residências populares.
São várias as vantagens do biogás produzido no Paraná:
- Primeiramente, ele ajuda a reduzir o lixo urbano, já que 1000 metros cúbicos (m3) de lodo de esgoto e 300 toneladas de resíduos orgânicos são totalmente aproveitados na usina - lixo que seria descartado diariamente no meio ambiente.
- Em segundo lugar, a eletricidade gerada pelo lixo e pelo esgoto será fornecida para moradias populares, ou seja, a tecnologia está sendo empregada para o uso social.
- Em terceiro lugar, além do biogás, com as sobras dos resíduos orgânicos são produzidos biofertilizantes.
- Sem falar no plástico que chega à indústria junto com o lixo que é reciclado para a produção de sacolas.
Política Nacional de Resíduos Sólidos
A EcoAmbiental atende à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305/2010, que busca enfrentar os desafios de uma gestão comprometida com questões ambientais, sociais e econômicas com o uso de tecnologia.
A lei prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos sólidos através de propostas sustentáveis que visem à reciclagem e à reutilização, bem como a destinação adequada dos rejeitos.
Tendo isso em mente e visando atender à PNRS ao atuar nas fases definidas pela própria Política, como:
- Não geração;
- Redução da geração;
- Reutilização;
- Tratamento;
- Disposição.
O lixo que gera energia no Ceará
Em Caucaia, na grande Fortaleza (CE), está um dos cinco maiores aterros de lixo que atende aos cerca de 2,6 milhões de habitantes da capital cearense, o qual recebe três mil toneladas de resíduos domiciliares diariamente.
Todo esse lixão vem sendo reaproveitado pela usina GNR Fortaleza, gerando 80 mil metros cúbicos de biometano – com previsão de chegar a 150 mil metros cúbicos por dia.
A energia aproveitada está abastecendo os dutos de gás utilizados pela indústria local, mas é capaz de abastecer, também, automóveis convertidos a GNV (gás natural veicular). “Essa produção do Ceará seria capaz de abastecer 10 mil veículos com gás natural por dia”, segundo Carlos Martins, diretor-executivo da Ecometano, empresa de inovação na cadeia do biometano.
Martins vê, ainda, potencial para a conversão dessa energia em eletricidade: “O Brasil tem opções de geração de energia biorrenovável como a solar e a eólica com parques muito competitivos, e o gás natural é uma dessas nobres alternativas”, destaca.
O executivo estima que o Brasil poderia economizar 20% do gás importado da Bolívia caso aproveitasse os cerca de três mil aterros sanitários do país para a geração de biometano.
Essa seria uma saída para cumprir a PNRS, reduzir as emissões e as fontes de energia fóssil, como o petróleo. Sem falar nos ganhos sociais e econômicos da expansão de usinas, como as do Ceará e Paraná, para todo o Brasil.
O futuro do Biogás no Brasil
A participação do biogás na matriz energética brasileira é extremamente tímida, já que ainda somos o país das hidrelétricas e das termelétricas.
A sua cota é contabilizada junto com outros itens como o bagaço e a palha de cana, sendo tratados como biomassa. Dados de 2016 do Ministério de Minas e Energia afirmam que à biomassa corresponde 8,8% da energia gerada no Brasil.
De acordo com Gustavo Ribeiro, diretor-técnico da Marca Ambiental, o futuro da energia está na valorização do lixo. Essa forma de geração de energia poderia ser mais eficiente se houvesse, no Brasil, uma coleta seletiva universal, já que ela, hoje, corresponde a apenas 2% do total da coleta de lixo. Isso porque é inviável economicamente fazer a separação do lixo quando ele já está no aterro.
A Associação Brasileira do Biogás e do Biometano (Abiogás) calcula que existem aproximadamente 125 plantas de biogás no país. Esses empreendimentos geram 1.344.206 m3/dia.
Portanto, apesar de o nosso país já gerar energia através do lixo orgânico e do esgoto, chegou a hora de o Brasil instituir como política prioritária de produção energética, a valorização do lixo, tal como ocorre em países com a Áustria e a Alemanha, onde políticas públicas promovem o reaproveitamento de resíduos e, como consequência, a desativação dos lixões.
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